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Com o avanço do envelhecimento populacional no Brasil, cresce também a relevância do trabalho de cuidadores profissionais. Em Belém, Vanusa Sousa, 52 anos, e Ariely Matias, 22, dedicam-se a garantir qualidade de vida a quem envelhece, por meio de cuidados que vão da higiene à prevenção de acidentes. Regina Moutinho, 64, funcionária pública, destaca o alívio e a confiança ao confiar os cuidados do pai às duas. O relato delas evidencia como o cuidado humanizado pode fazer toda a diferença na velhice.

Reportagem: Eva Pires
Imagens: Thiago Gomes

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Transcrição
00:00Só para você ter uma ideia, a profissão de cuidador, ela de 2012 até 2022, ela cresceu 540%,
00:10justamente pelo reflexo do aumento da população idosa no Brasil e no mundo.
00:17Só aqui no nosso estado, nós já temos 10% da população de idosos, ou seja, a cada 10 pessoas, uma já é idosa.
00:25E nós temos também, por exemplo, os estados do sul do Brasil já estão numa média, muitas vezes, passando de 20%.
00:34Tem algumas cidades que já passam de 20%, chegando a 30%.
00:38E em 2050, provavelmente, certamente, nós seremos, os idosos serão 30% da população.
00:47Então, claro que essa demanda, ela exige profissionais capacitados.
00:53E aí é que entram os cuidadores de idosos, que eles, o que é que visa um cuidador de idoso?
01:00Justamente a qualidade de vida dessa pessoa, né?
01:04Que muitas vezes já tem uma comorbidade, ou já tem uma idade muito avançada.
01:10E as famílias, elas precisam sair para fazer, continuar suas vidas trabalhando,
01:18mas também precisam de alguém para cuidar desse idoso.
01:21E aí, então, é que está crescendo a cada dia a profissão de cuidador de idosos.
01:27A profissão de cuidador de idosos, ela já existe.
01:31E como você bem falou, ela só ainda não está regulamentada.
01:35O projeto de lei já está na Câmara para ser votado,
01:39mas quando é criada uma nova profissão, vários ramos são afetados.
01:45O econômico, então é por isso que demanda mais tempo até que ela seja regularizada.
01:51Então, esses profissionais, eles são regidos, às vezes, pela CLT, no âmbito dos empregados domésticos,
01:58ou como plantonistas, como profissionais liberais, que vão, tiram aquele plantão,
02:05cinco plantões no mês, dez plantões no mês.
02:07Vai depender muito da disponibilidade e da necessidade da família.
02:12E, claro, todo cuidador de idosos, ele precisa ter mais de 18 anos, ensino fundamental, completo,
02:20e, claro, o curso de cuidador, a capacitação, o curso numa instituição renomada,
02:28com os profissionais gabaritados para dar esse curso.
02:31Por exemplo, eu também sou professora do curso de cuidador, mas eu sou assistente social de formação
02:37e especialista em gerontologia, saúde mental e cuidados com a pessoa idosa.
02:42Então, dentro dessa formação, a gente trabalha toda a questão psicossocial do idoso,
02:52o relacionamento com a família, o relacionamento com equipes,
02:55e, dentre as qualidades fundamentais que um cuidador deve ter, com certeza, é o amor,
03:01a empatia, se colocar no lugar do outro, né, e responsabilidade e saber técnicas adequadas
03:12para que o idoso tenha sempre uma excelente qualidade de vida, que é o que a gente mais objetiva.
03:19Realmente, você tocou num ponto muito interessante, deveria ser mais valorizado,
03:26porque se eu disser aqui que é fácil você cuidar de uma pessoa idosa, não é.
03:30É um trabalho, muitas vezes, emocionalmente difícil, fisicamente também,
03:37quando os idosos, por exemplo, são idosos mais corpulentos,
03:41então você tem que desprender aquela força física.
03:43Geralmente, são plantões de 12 horas, de 24 horas, os noturnos, por exemplo.
03:49Você vai realmente para trabalhar, não para dormir, como as pessoas imaginam, né.
03:54E essa valorização, ela vem aumentando, ela vem realmente sendo olhada com outros olhos,
04:03porque a necessidade está aí.
04:05Muitas famílias precisando de cuidadores para cuidar dos seus idosos.
04:09Então, eu espero que, muito em breve, essa profissão seja regularizada
04:15e que nós tenhamos um olhar diferente, porque o cuidador, ele é um profissional da área da saúde.
04:23Ele não é apenas um acompanhante.
04:24O cuidador de idosos, ele é responsável, principalmente,
04:29por acompanhar todas as atividades da vida diária do idoso.
04:33Então, ele organiza a questão da medicação, da alimentação,
04:40para que os remédios sejam administrados na hora correta.
04:44Acompanhamos nos médicos, em exames.
04:48Estimulamos o cognitivo, que é tão importante.
04:52Está sempre conversando, sentando, jogando um dominó, um quebra-cabeça.
04:57Está conversando, acompanhando em passeios, verificando, inclusive, à noite,
05:06acompanhando ao banheiro, para evitar risco de quedas,
05:09que é muito comum as quedas no envelhecimento, principalmente idosos com idade mais avançada.
05:16E, muitas vezes, essas quedas ou elas acamam,
05:20ou elas levam o idoso, infelizmente, até a óbito.
05:23Então, o cuidador, ele é muito importante nesse sentido.
05:27Ele é aquela pessoa, realmente, primordial na saúde da pessoa idosa.
05:32Isso vai depender muito de idoso para idoso.
05:35Tem idosos que, por mais que estejam com uma idade avançada,
05:40eles necessitam somente de uma companhia, de uma supervisão, digamos assim, das atividades.
05:47Mas já tem idosos que têm comorbidades, que são demenciados,
05:50que, por exemplo, estão cometidos do mal de Alzheimer, né, que eles precisam.
05:56Então, a família precisa ficar atenta quando perceber que ele já não está mais conseguindo,
06:03por exemplo, administrar a sua vida rotineira como antes.
06:08Já não consegue, por exemplo, fazer as atividades da vida diária sozinho.
06:14Como, sim, levantar, ir ao banheiro, fazer as refeições.
06:20Então, isso tudo vai depender do estado como um todo do idoso.
06:25É um momento, assim, é um momento muito difícil,
06:28porque a gente acha que a gente pode cuidar, né, a família, né.
06:33Mas nós só somos cinco filhos, né, e meus pais começaram a sentir dificuldade.
06:40Mais o meu pai, mais a minha mãe, mais o meu pai.
06:45Então, nós começamos a sentir a dificuldade dele depois da pandemia,
06:50porque na pandemia nós tivemos que resguardá-lo em casa, né.
06:55E aí, depois da pandemia, eles ficaram quase que dois anos em casa,
07:00e o papai começou a regredir.
07:03Ele já não queria mais voltar para trabalhar na empresa que nós temos.
07:07Aí ele já começou a ficar com medo de sair de casa, entendeu?
07:11E com isso, aí nós começamos a ver a necessidade de ter alguém.
07:15No início, nós botamos umas funcionárias mesmo do lar, né.
07:20Mas aí a gente viu a dificuldade que estava tendo com os remédios,
07:24que a minha mãe não conseguia mais controlar os remédios dele, né.
07:28Apesar de a gente estar sempre por lá, mas ela não conseguia mais controlar.
07:32E aí nós fomos em busca, né.
07:37E a minha irmã, que é muito amiga da Vanusa, né.
07:41E disse, olha, agora tem a Vanusa, que tem uma empresa de cuidadores.
07:45Então é a hora de a gente chamar.
07:47E nós chamamos a Vanusa, a equipe dela, ela levou a equipe, né.
07:52E foi para nós, foi uma bênção, porque a gente trabalha, né.
07:56A gente ainda está na ativa, nós trabalhamos.
07:58Então, com o trabalho, a gente não tem muito tempo.
08:02Porque a gente está além do trabalho, a gente tem a família, né.
08:06Tem várias outras coisas, né.
08:08E não podemos deixar eles de lado.
08:10Então, nós botamos a equipe toda para trabalhar,
08:15para poder dar um suporte bem melhor para eles, para os dois.
08:19Mas, olha, eu vou te dizer, por mim, eu jamais botaria meu pai e minha mãe em algum lugar.
08:25Entendeu?
08:26Eu acho que isso aí é a base de uma família, do amor.
08:30E eu nunca nem pensei numa hipótese dessa.
08:34Então, eu acho que a gente tem que cuidar.
08:39Assim como nós fomos cuidados um dia,
08:41é o nosso dever, nossa obrigação de como filho cuidar dos nossos pais, né.
08:46Apesar, como eu lhe falei, não tem tempo, a gente não tem esse tempo ideal.
08:50Então, graças a Deus, existem as pessoas para ser os cuidadores.
08:55Mas dentro do nosso lado, que a gente está presente, né.
08:59Com isso, o que é que nós fizemos?
09:00Botamos câmeras lá na casa dos meus pais.
09:03Tem câmeras em todos os lugares, para a gente estar sempre olhando eles.
09:07E botamos os cuidadores para dar esse suporte.
09:12Mas, assim, eu jamais pensaria em tirar eles do nosso lar para botar em algum lugar.
09:21Então, o que eu falo para as pessoas é que quando chega a idade dos pais,
09:26assim como estão os meus,
09:27é que procurem realmente cuidadores,
09:31que são pessoas que estão capacitadas, estão treinadas, né,
09:35para nos dar esse suporte, né.
09:38Com os remédios, com a medicação no horário certo.
09:42Meu pai estava caído muito com as quedas.
09:45Ah, depois que nós botamos aí, não caiu mais.
09:48Então, são uma série de coisas que deram esse suporte para nós
09:52e nós estamos muito satisfeitos com isso.
09:54Quando a gente entra em um local para cuidar do idoso,
10:00a primeira coisa que ele vai dizer é uma negação.
10:04Ele não vai querer a pessoa ali, vai querer afastar,
10:08vai dizer que não está cuidando dele direito.
10:10Mas, com o tempo, com o vínculo, com a conversa,
10:14até mesmo a companhia, ele vai fortalecendo vínculos.
10:18E, querendo ou não, a gente se apega.
10:19E, no decorrer de tudo isso, eu acho que o que mais impacta
10:27é aqueles que já estão em cuidados paliativos,
10:32onde a gente sabe que uma hora ele vai partir.
10:37Mas, é isso.
10:40A gente tem esse cuidado, é um carinho, é uma empatia.
10:44É todo um carinho, uma logística por trás.
10:46O diferencial é o cuidado.
10:50Porque, com o cuidador ali, o idoso tem a autonomia
10:53de fazer as coisinhas dele.
10:55Tem alguém ali para acompanhar, evitar quedas, evitar baques.
11:01E vai além do cuidador físico.
11:05Vai, como eu posso dizer,
11:09todo aquele acompanhamento com ele.
11:11Ele pode se sentir livre para fazer algumas atividades diárias
11:16que a gente normalmente diz que é arriscado,
11:21porque ele não vai querer ficar quieto.
11:23Principalmente aqueles que têm a comorbidade
11:25de ficar se locomovendo.
11:27Cuidados que vão além do que nós costumamos ter.
11:32que vai além da fisioterapia,
11:37começar cedo para envelhecer com saúde,
11:40poder não ser uma pessoa que fica acamada.
11:44Trabalhar o cognitivo, jogos lúdicos.
11:48Para trabalhar a mente desde cedo.
11:50Principalmente para aqueles que possam ter demência
11:54e Alzheimer futuramente.
11:56Então, trabalhar são esses cuidados.
11:58Tchau, tchau.

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