No Direto Ao Ponto, o historiador e analista político Victor Missiato analisou os primeiros sinais do pontificado de Leão XIV e os possíveis caminhos para uma nova fase de globalização da Igreja. Ele destacou como o novo papa pode ampliar a influência diplomática do Vaticano, resgatar o papel geopolítico da fé e reforçar a universalidade da mensagem católica em um cenário internacional fragmentado.
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NotíciasTranscrição
00:00E falando sobre essa visão, Vitor, professor, ele sempre deixou muito claro que de alguma forma gostaria de enxergar certa descentralização na maneira como o pontificado funcionaria.
00:13Tirando um pouco, vamos dizer assim, o poder de pontífices ou papas europeus ou americanos.
00:20Ele é americano, mas a forte atuação dele no Peru faz com que ele carregue essa característica.
00:25Por que hoje é importante, no teu ponto de vista, que a igreja expanda as suas fronteiras e tenha representatividade também em países que não necessariamente estejam ou na Europa ou, talvez, o próprio Estados Unidos?
00:40Perfeito. Boa noite a todos, primeiramente. É uma honra estar aqui com vocês, público de casa também.
00:46Eu destacaria que, quando nós pensamos a globalização, se faz cada vez mais presente a ampliação da representatividade dos homens da igreja frente a esse mundo que nós vivemos.
01:02Ou seja, já é uma tendência que vem se caminhando, depois do Bento XVI, vale colocar aqui em ênfase que foi um dos poucos papas na história que renunciou.
01:14Isso diz muito sobre, evidentemente, sobre muita coisa.
01:18Mas há um conflito com o próprio tempo que estava se habitando ali.
01:23Diante disso, com a escolha de Francisco e também agora com o Leão XIV, o que nós estamos assistindo, evidentemente, é uma expansão da igreja católica, que é universal, que é talvez a igreja mais universal que nós temos,
01:41mas é a universalidade política do papado.
01:46E aí você percebe que isso significa algo que vai se ampliando cada vez mais para outros continentes.
01:52E aí quando a gente começa a ver que a África vem crescendo o número de cristãos, que a atenção do cristianismo para com a Ásia também vem ganhando força,
02:02e a América, que é um espaço de interconexão entre esses dois mundos, o mundo mais tradicional europeu, com esse novo e novíssimo mundo da África, da Ásia, da Oceania e das Américas,
02:16aí isso se faz muito presente.
02:18Essa perspectiva global, ela adentrou cada vez mais, não só nos discursos, vocês estavam falando da simbologia,
02:26mas o discurso do próprio Papa inicial mostra muito essa virada também para línguas, onde esses povos estão habitando.
02:36Interessante, eu quero até trazer um trecho do primeiro discurso do Papa Leão XIV. Vamos acompanhar.
02:41Queridos irmãos e irmãs, esta é a primeira saudação do Cristo ressuscitado, o bom pastor, que deu a sua vida pelo rebanho de Deus.
02:54Eu também gostaria que essa saudação de paz entrasse em seus corações e alcançasse suas famílias, todos os povos, onde quer que estejam, todas as nações, toda a terra.
03:09A paz esteja com vocês.
03:10A todos os povos, a toda a terra, a paz seja com vocês.
03:17Professor João Cláudio Rufino, ele fala de paz no momento em que a gente acompanha vários conflitos espalhados pelo mundo, principalmente no Oriente Médio.
03:23Foi interessante porque no discurso, praticamente no discurso de despedida do Papa Francisco, ele menciona a necessidade de paz, principalmente no Oriente Médio, em relação a esses conflitos que assistimos agora.
03:35E aí vem o novo Papa, num discurso muito bem elaborado ali, todo mundo ficou impressionado com isso, dele já estar com um papel, com algo elaborado, falando também logo de cara da necessidade de paz.
03:45Mas eu queria entender do senhor de que maneira que a igreja católica, ela se posiciona e ela deve se posicionar em relação a conflitos.
03:53Porque não necessariamente ela pode impedi-los, pará-los, mas qual é a influência que ela tem sobre escolhas feitas por autoridades que hoje conduzem esses conflitos?
04:04Uma ótima questão.
04:05Primeiro ponto importante é voltar à Sagrada Escritura.
04:09Quando Jesus, no texto do Evangelho de João, diz a paz esteja convosco, o termo paz, eirene, em grego, o xalom do hebraico, tem a ver com a questão da reconciliação.
04:24Esse é um ponto muito importante. Reconciliação do quê? De toda a humanidade e da humanidade com Cristo.
04:33Inclusive, o apóstolo Paulo, na carta aos Efésios, ele fala sobre isso.
04:39Cristo é a nossa paz. De dois povos fez um, derrubando um muro da separação.
04:46Quem são esses dois povos judeus e todo o restante da humanidade?
04:50Em Cristo, toda a humanidade é reconciliada e agora reconciliada ao Pai.
05:00Esse ponto é fundamental dentro do Evangelho.
05:04Quando Cristo diz, a paz esteja convosco, ele está afirmando que essa reconciliação aconteceu.
05:12Quando a gente volta na teologia bíblica, e com certeza, ele tem isso no seu horizonte teológico.
05:19A humanidade é criada por Deus em unidade.
05:25Expressão do pecado, torre de Babel, nós até comentávamos anteriormente, não é?
05:30É a separação.
05:32Então, sempre a igreja será aquela que vai iluminar a humanidade, do ponto de vista da sua moral,
05:42para dizer, olha, é vontade de Deus que toda a humanidade seja uma.
05:48E que todos vivam reconciliados em unidade, em amor.
05:54Aliás, esse é o lema dele.
05:58Todos nós somos um.
05:59Sim, exatamente.
06:00Percebe que, inclusive, também está no Evangelho de João, Santo Agostinho comentou, João, muito bem.
06:04Tem tudo isso aí, nesse horizonte.
06:07Então, quando ele diz isso, ainda mais nesse contexto em que nós estamos,
06:12de tantos conflitos, e conflitos que beiram até uma terceira guerra mundial,
06:18como alguns têm dito, conflitos extremamente violentos,
06:22que podem ainda se intensificar,
06:26elevando toda, diversas nações a conflitos muito complicados,
06:31a igreja vai lançar essa mensagem,
06:35e ele está, percebemos aí, muito atento ao sinal desse tempo.