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Em quase 900 anos de história, Portugal viveu cinco grandes revoluções. O que ficou destas revoluções para o século XXI?
Transcrição
00:00REVOLUÇÕES
00:13As revoluções surgem como uma constante que anuncia novos ciclos.
00:19Em Portugal, pequeno território, mas um dos mais antigos países deste planeta,
00:23este fenómeno ocorreu diversas vezes.
00:30A CIDADE NO BRASIL
01:00A CIDADE NO BRASIL
01:18A CIDADE NO BRASIL
01:48Tivemos vários especialistas para nos ajudar a examinar e decifrar estes acontecimentos.
01:56Devidamente equipados e com o cuidado de não contaminar a linha temporal,
02:00avançamos para o passado à procura de respostas.
02:06A nossa viagem começa agora.
02:18É necessário recuar a 1580, quando Portugal passou a integrar a monarquia espanhola
02:43para entender as razões que conduziriam à 2ª Revolução Portuguesa.
02:47Conquistar o norte de África pela glória do reino.
02:50Conquistar o norte de África pela glória do reino.
02:53Antes, rainha, por um dia do caduquesa toda a vida.
03:08Foi uma surpresa que Portugal entrase na monarquia hispânica em 1580
03:25e que começasse então um ciclo de 60 anos de união.
03:29Não foi uma surpresa.
03:30Em 1578, à frente do exército português de reutado em Marrocos,
03:42estava Dom Sebastião.
03:43O jovem rei português não regressa da Batalha de Alcácer-Quibir,
03:47deixando no ar o mistério em torno da sua morte.
03:50A dinastia de Aví está prestes a extinguir-se e a independência de Portugal está em risco.
03:55A dinastia colapsou porque todos os irmãos e filhos de Dom João III faleceram,
04:07à exceção de um neto de Dom Sebastião.
04:15Portanto, a dinastia de Avís extinguiu-se biologicamente,
04:18mas também politicamente, porque algumas das mais relações pessoais
04:22entre os vários membros da dinastia de Avís de meados do século XVI,
04:25refletiram-se em personalidades que não casaram e não geraram herdeiros legítimos
04:29que estariam numa linha de sucessão ao trono acima de Filipe II.
04:34A crise dinástica que se seguiu à morte do cardeal Dom Henrique
04:39levou a que, entre os pretendentes, Filipe II de Espanha,
04:44que era tão só o monarca mais poderoso da Europa,
04:48tinha o consenso, o apoio da maioria da nobreza, do clero,
04:52da burguesia interessada no comércio marítimo.
04:56Havia grupos em 1580 que estavam interessados
04:59na integração de Portugal na monarquia espanhola
05:03e foi feita mediante uma certa negociação,
05:06um certo pacto com os reis de Espanha.
05:09Não era nada de muito surpreendente
05:12que um rei português não fosse natural de Portugal.
05:17Sabíamos que o que importava em primeiro lugar
05:19era que ele fosse um descendente legítimo.
05:21A política dinástica desde a baixa edad média
05:24entre Castilla e Portugal
05:25havia sido a de matrimoniar, casar,
05:28aos filhos de um lado e de outro,
05:30sempre pensando que, em caso de crise extrema,
05:34é a dizer, em caso de extinção dinástica,
05:36de um lado ou de outro,
05:38os interesses comuns poderiam ser defendidos
05:42por a dinastia que sobreviviera a essa crise.
05:45Em 1580, consuma-se a União Ibérica.
05:49Dom Filipe II de Espanha
05:50passa a ser também Dom Filipe I de Portugal,
05:54liderando os dois reinos.
05:55Nas Cortes de Atomar,
05:56jura cumprir com as leis e as tradições de Portugal.
06:01Portugal não é integrado na monarquia hispânica
06:04rigorosamente como uma anexação,
06:07mas é incorporado como um reino
06:09que mantém as suas próprias instituições
06:12e nas quais os castelhanos, em princípio,
06:15não podem participar diretamente.
06:17Muitas vezes, nós, talvez projetando no passado
06:21sentimentos que temos no presente,
06:24achamos que o que motivou, em primeiro lugar,
06:27a restauração foram sentimentos nacionalistas.
06:30Foi o sentimento de que estávamos a ser governados
06:32por um rei estrangeiro.
06:33Se calhar não foi tanto assim.
06:36Por exemplo, em 1640,
06:38muitos naturais do reino de Portugal
06:42exprimiam-se, quer em português, quer em espanhol.
06:45Camões, que nós temos como um símbolo
06:47da nossa memória nacional,
06:49ele escreveu muita coisa em espanhol.
06:55O conceito de pátria era frequentemente referido
07:00pelas pessoas do povo à sua terra natal,
07:02e não num contexto mais abrangente.
07:05Ser plebeu, ou ser nobre, ou ser membro do clero,
07:10isso é que era importante.
07:12Por que foi tão conflictiva, então,
07:14a união de Felipe II?
07:16A resposta é muito sencilla.
07:17Era a união entre dois reinos bastante equilibrados.
07:21Castilla, Portugal, Portugal e Castilla.
07:24Mas a castilla de Felipe II, que incorpora Portugal,
07:29já não é essa castilla isolada.
07:31É a cabeça de um imperio enorme,
07:33que, portanto, suponía uma amenaza para os portugueses.
07:37Portugal é dos poucos reinos europeus
07:40que nunca havia estado unido a outro reino.
07:44Desde seu nascimento na Idade Média,
07:46e, excepto o parênteses hispânico,
07:49Portugal sempre foi um estado soberano.
07:52Portanto, para incorporar-se a outra monarquia
07:56e tão poderosa,
07:58só podia generar conflitos.
08:06Perante a realidade da independência perdida,
08:09os portugueses refugiam-se na lenda.
08:12Numa manhã de nevoeiro,
08:14chegará el rei Dom Sebastião para o salvar.
08:17Mas os anos passam e o nevoeiro não levanta.
08:19Se em 1580, além de tudo,
08:23era uma Espanha poderosa que ia a englobar Portugal
08:25e que Portugal podia ser parceiro de uma empresa triunfante,
08:29em 1640, Portugal está a ser parceiro de uma empresa decadente.
08:33A Espanha está a afundar-se
08:34e Portugal quer largar-se deste objeto pesadíssimo
08:37que está a ir ao fundo e não quer ir ao fundo com a Espanha.
08:39O comércio ultramarino não era aquilo já que tinha sido.
08:44O comércio do açúcar no Brasil estava muito prejudicado
08:49pela presença holandesa,
08:51portanto, as dificuldades financeiras eram enormes.
08:53Também os mercadores portugueses que no início, em 1580,
08:57achavam que iam ter um acesso fácil ao comércio
09:00na parte espanhola do Império,
09:02isso não se verificou porque havia a tendência
09:05para reservar esse comércio aos espanhóis.
09:08Mas a verdade é que antes do século XIX,
09:10Portugal nunca teve bancas rotas,
09:11ou seja, Portugal contra a Espanha.
09:13Burocracia, dívida pública, impostos.
09:16Tudo aumentava num Portugal que via também
09:19a sua população crescer de cerca de um milhão
09:21para dois milhões de habitantes.
09:23E é a partir de 1630
09:26quando a política cada vez mais centralista,
09:30mais agressiva,
09:32sobretudo no plano político
09:33e sobretudo aumentando os tributos, os impuestos,
09:38os espanhóis vão desatar um cambio radical.
09:43É dizer, que esse nacionalismo cultural,
09:46esse amor à la pátria portuguesa,
09:48que sempre teve elementos anticastilhanos,
09:50agora se transforma em um nacionalismo, digamos, político.
09:54A espelha conheceu dificuldades e entrou em crise.
09:58Foi preciso começar a exigir mais impostos.
10:02E isso desencadeou um forte sentimento de irritação popular.
10:07O povo apoderou-se da cidade
10:09e o movimento propagou-se rapidamente a todo o Alentejo.
10:13Fez-se mesmo sentir noutros pontos do país.
10:17É isso que chamam a revolta do Manuelinho de Ébora.
10:23Expressão curiosa, porque o Manuelinho existia.
10:29Era um inocente,
10:31um tonto que não dizia coisa com coisa.
10:34Apesar disso,
10:36era com o nome dele,
10:38Manuelinho e Débora,
10:39que apareciam assinadas de manhã
10:41as proclamações
10:43que nas portas das igrejas
10:45davam as instruções para a revolta.
10:48Digamos,
11:01os aspectos mais visíveis,
11:04mais gritantes e mais fundamentais
11:06é que a monarquia hispânica
11:08é a grande potência da época.
11:11Aquela onde o sol nunca se põe,
11:13como eles diziam também,
11:15e envolve-se nos grandes conflitos europeus.
11:18O país,
11:19a Fidelguia,
11:19a própria Fidelguia,
11:20que vai fazer os conjurados,
11:22estão a ser recrutados
11:23para ir combater pela Espanha na Europa,
11:24coisa que não estava prevista em 1880,
11:27e o Império está a ser atacado
11:28e dominado e conquistado,
11:30nomeadamente no Nordeste Brasileiro,
11:32pelos holandeses
11:33e também bem parte na Índia.
11:35É preciso não esquecer
11:36que da mesma forma
11:37que em 1383
11:39a nossa revolução
11:41esteve inserida na Guerra dos 100 anos,
11:44em 1640
11:45a nossa revolução
11:46esteve inserida
11:47na Guerra dos 30 anos
11:48e a Espanha estava nessa guerra
11:51a lutar contra a França,
11:53mas também estava
11:54nas Províncias Unidas,
11:55no que é hoje a Holanda,
11:56a lutar contra as suas possessões
11:59que estavam em revolta
12:00há muitas décadas.
12:01Em 1640 o país
12:03está cansado
12:05de uma governação
12:05com um rei à distância,
12:06então era um país
12:07que estava agora
12:07a ser arrastado
12:08para a tragédia da Espanha.
12:10A Espanha,
12:10que é pesante
12:11e que é toda poderosa,
12:13em 1580
12:13os lisboetas
12:14chegaram a alimentar
12:15a hipótese
12:16de que Filipe II
12:16fizesse Lisboa
12:17a capital
12:17de todos os seus estados.
12:19Filipe II
12:19reside aqui
12:19quase dois anos seguidos
12:20e portanto
12:21essa aspiração
12:23era legítima.
12:24Por que privilegiar
12:25aos portugueses
12:26e não aos napolitanos,
12:28por exemplo?
12:28Nápoles era a cidade
12:30mais poblada de Europa
12:31na época
12:32e era a possessão
12:33da monarquia española.
12:35Filipe II
12:36queria uma cidade central,
12:37equidistante
12:38e onde nenhuma instituição
12:40pudesse rivalizar
12:42com o poder da corte.
12:45Madrid,
12:46portanto,
12:47é uma cidade
12:47que não tinha obispo.
12:50Não havia catedral.
12:51A catedral de Madrid
12:52se acabou de construir
12:53há apenas 20 anos.
12:56Madrid não tinha universidade,
12:57estava em Alcalá de Henares.
13:00Madrid não tinha
13:00tribunal da Inquisição,
13:02estava em Toledo.
13:04Madrid, portanto,
13:05é uma construção
13:06artificial
13:07pensada por
13:09e para
13:09a corte espanola,
13:12para a projeção
13:13do poder imperial
13:14da corte.
13:15Podia ter sido Lisboa
13:16depois da União?
13:18A resposta é não,
13:19porque em Lisboa
13:21havia uma longa história
13:22e instituições
13:24muito poderosas
13:25que teriam
13:25criado rivalidade
13:27e conflitos
13:28com a Corona.
13:29Com o passar do tempo,
13:30a capacidade de manter
13:32este dualismo
13:33entre Portugal e Espanha
13:34foi-se perdendo.
13:36Houve uma tendência
13:37para um espanholismo,
13:38digamos assim,
13:40e é fundamentalmente
13:41isso que vai levar
13:42à revolta de 1640.
13:44Cataluña se revela
13:51seis meses antes
13:52de Portugal
13:52e inicia um processo
13:54muito complexo
13:55que sempre se ha
13:56comparado com
13:57o português.
13:58Curiosamente,
13:59foi da própria Espanha
14:01que veio o tão desejado
14:02sinal para a revolução
14:03portuguesa.
14:04Em junho de 1640,
14:07a Cataluña
14:07revolta-se contra
14:08o poder central espanhol.
14:10Os conspiradores portugueses
14:15aproveitam um momento.
14:16Sabem que o rei espanhol
14:17se irá distrair
14:18com o que se passa
14:19na Cataluña,
14:20junto à fronteira francesa.
14:21em primeiro lugar,
14:27tem que ter em conta
14:28que a rebelião catalana
14:29é o detonante último
14:32que decide
14:33aos conspiradores portugueses
14:35a dar o golpe
14:37de diciembre.
14:38O grande acontecimento
14:56da restauração de Portugal
14:58é o golpe
14:59do 1 de diciembre
15:00de 1640.
15:02Nas vésperas da revolução
15:04de 1640,
15:05há um homem em Lisboa
15:07que é o símbolo
15:07da ocupação espanhola
15:08de Portugal.
15:10E esse homem
15:10é o secretário de Estado
15:12Miguel Vasconcelos.
15:15Quem era Miguel de Vasconcelos?
15:19Miguel Vasconcelos
15:20é o homem que está
15:20no lugar errado,
15:21na hora errada.
15:37é um personagem fascinante
15:39e é o prototipo
15:41perfeito
15:41dessa classe média
15:43que trabalhava
15:44para a administração
15:45dos reis
15:46na Europa moderna,
15:48que utilizava
15:49o serviço
15:50aos reis
15:51para ascender
15:52social e económicamente.
15:54Na verdade,
15:55na maior parte
15:56dos 60 anos
15:57da monarquia dual,
15:59a governação de Portugal
16:00esteve na mão
16:01de portugueses
16:01como governadores
16:02ou como vice-rei.
16:03Portanto,
16:03olhar para Miguel Vasconcelos
16:04como um traidor
16:05é um exagero.
16:06Mas houve um problema
16:08adicionado.
16:09O origem social
16:10de mediania
16:11de Vasconcelos
16:12chocou frontalmente
16:14com o mundo
16:15da fidelidade portuguesa.
16:17Não só por sua política,
16:19mas por sua condição social.
16:22O resultado foi
16:23que no dia do golpe
16:24em Lisboa,
16:25Vasconcelos
16:25pagou com sua vida.
16:27Isto é curioso
16:28porque o Miguel Vasconcelos
16:29se mostrava muito bem.
16:31a teoria
16:33do bode expiatório.
16:36O bode expiatório
16:38é um costume judaico.
16:40Como o bode
16:41levou os pecados todos,
16:44as pessoas
16:44ficam muito limpinhas,
16:46ficam sem sombra
16:47de pecado.
16:49O papel de Miguel Vasconcelos
16:50foi precisamente
16:52o do bode expiatório.
16:54Era simplesmente
16:55um português
16:55que servia
16:56o seu rei,
16:57como tantos outros.
17:01Miguel Vasconcelos
17:16é surpreendido
17:17dentro do armário
17:18do Palácio Real
17:19no Terreiro do Passo
17:20e o desfecho
17:21é trágico.
17:23Teve o azar
17:23de estar no lugar errado
17:24à hora errada
17:25e foi pelo general abaixo.
17:26O asesinato
17:27de Miguel Vasconcelos
17:29que é um asesinato
17:30ritual,
17:30não esquecemos
17:31o violento que foi.
17:32É expulsado
17:33desde o Palácio Real
17:34de Lisboa
17:35e é assassinado
17:36e despedazado
17:37em público.
17:38A defunstração
17:48de Miguel Vasconcelos
17:50aos olhos atuais
17:51é um acto de barbárie.
17:52Ese asesinato
17:53organizado por
17:55os conspiradores
17:56lançava
17:57um mensagem claro.
17:59O golpe
18:00não tem volta atrás.
18:02Vamos
18:03a por todas.
18:04Vamos
18:04a consolidar
18:05um regime
18:06alternativo
18:06e quem não está
18:08de acordo
18:09vai correr
18:10a mesma sorte
18:11que Vasconcelos.
18:13Esse é o mensagem político.
18:14Não é
18:15um golpe
18:16feito por Fidalgos
18:17no Palácio,
18:19é um golpe
18:19feito por Fidalgos
18:20no Palácio
18:21com a aclamação
18:23popular
18:23na medida
18:24em que é preciso
18:25que o povo
18:25seja chamado
18:26a presenciar
18:27este momento
18:28determinante
18:30de corte
18:31com o domínio
18:32de Filipina.
18:33a 1 de dezembro
18:36de 1640
18:37após meses
18:38de muita hesitação
18:39e para a grande
18:40surpresa dos espanhóis
18:41a revolução
18:42tinha saído à rua.
18:44A restauração
18:45é uma coisa
18:45muito simples.
18:46Há uma cavalgada
18:47de um conjunto
18:47de Fidalgos
18:48do Recio
18:49até ao Togueiro de Passo.
18:51Esse conjunto
18:51de Fidalgos
18:52entra pelo Passo
18:52adentro,
18:53prende uma mulher,
18:53defenestra um homem
18:54e faz uma gritaria
18:55e está feita a restauração.
18:57Basicamente foi isto.
18:58Não houve mais nada.
18:59Se Portugal
19:00hoje ocupara
19:02um posto
19:02mais relevante
19:03na escena internacional,
19:05estou convencido
19:05de que haveria
19:06várias películas,
19:08várias novelas
19:09escritas
19:09sobre um acontecimento
19:11assim.
19:12O golpe de Lisboa
19:13de 1640
19:14resume tudo.
19:16Resume
19:16o que é
19:17a política barroca,
19:18a complexidade
19:19do poder,
19:21as lutas faccionales,
19:22a incertidumbre,
19:23o arriesgar tudo
19:25quando
19:25não realmente
19:27estava tudo garantizado.
19:28E isto é um sinal
19:29de que,
19:30mais do que uma revolução,
19:31é uma confirmação
19:32de algo que
19:33estava latente,
19:34que era a insatisfação
19:35absoluta
19:36da esmagadora maioria
19:36dos portugueses
19:37acerca da governação
19:38que tinham
19:39a partir de Madrid.
19:40Há alguns paralismos
19:42entre o grupo
19:43que desencadeou
19:45a revolução
19:46de 1383-85
19:47e o 1º dezembro
19:49de 1640.
19:50Os principais protagonistas
19:51do golpe de 1640
19:53são a segunda linha
19:53da aristocracia.
19:54A maior parte
19:54dos aristocratas
19:55estão em Madrid,
19:56só apanhar surpresa
19:57e lá ficam.
19:57Mas, sobre todo,
19:59o que têm
19:59é um ressentimento
20:01justificado
20:02porque sejam
20:03excluídos
20:05durante muitos anos
20:06dos grandes
20:07círculos
20:08do poder
20:08em Madrid.
20:09os conjurados
20:10estavam indiscutivelmente
20:11decididos
20:11a romper com Madrid,
20:13nem que fosse preciso
20:14criar uma república.
20:15Isto é muito interessante
20:16porque nos mostra
20:17que há, de facto,
20:19um grupo de jovens
20:20aristocratas
20:20que quer um país diferente,
20:23que sabe que montando
20:23um país diferente
20:24ganha poder, evidentemente,
20:25mas, ao mesmo tempo,
20:27há esta noção
20:27de que nem que seja
20:28com uma república.
20:29E este promenor
20:30para mim é muito importante
20:30porque significa
20:31que os conjurados
20:32procuram, de facto,
20:33a restauração
20:34da independência,
20:34querem ser independentes,
20:35seja como for.
20:36Penso que a ideia
20:38destes conjurados
20:40é repor
20:41uma ordem perdida,
20:43coisa que,
20:44à luz da sociologia
20:45ou da ciência política,
20:47não que se conforma
20:48com a ideia
20:48de uma revolução, não é?
20:49A revolução é para mudar,
20:50para transformar,
20:51para ver para o futuro.
20:53Este é um movimento
20:53que vê no passado.
20:56Filipe IV de Espanha,
20:57III de Portugal,
20:59conhecido como
20:59Rei Planeta,
21:01quis transformar Portugal
21:02numa província espanhola.
21:04Mas isso não passou
21:05de um sonho
21:05e adolescente.
21:08Filipe IV
21:09é um rei
21:10que chega ao trono
21:10prematuramente.
21:12Era um jovem
21:12de 16 anos,
21:13sem formação
21:14ainda terminada,
21:16não tinha a maturidade
21:17necessária
21:18para actuar como monarca,
21:20mas sim tinha
21:21ao menos
21:21uma convicção clara
21:22da importância
21:24da autoridade real.
21:26Mas,
21:26seu carácter,
21:27mais bem tímido,
21:28retraído,
21:29detestava resolver
21:31conflitos personalmente,
21:32lhe impediu
21:34desenvolver
21:35o que é
21:35a labor
21:35de governo
21:36com toda plenitude.
21:38Portanto,
21:39a união
21:39entre um rei
21:40tímido
21:40e um ministro
21:42valido,
21:43que era o próprio
21:43daquela época,
21:44resultou,
21:45ao final,
21:45um cóctel
21:46letal
21:47para o seu reinado.
21:49Tudo foi planeado
21:50para que,
21:51nas ruas,
21:51o povo testemunhe
21:52e apoie o nascimento
21:53de uma nova dinastia.
21:55Em 1640,
21:57Dom João IV
21:58do Bragança
21:59dá início
22:00à quarta e última
22:01dinastia de Portugal,
22:02a de Bragança,
22:03que reinará
22:04até ao fim
22:05da monarquia,
22:06a 5 de outubro
22:07de 1910.
22:17Do Bragança
22:19estava preparado
22:19para o golpe,
22:20evidentemente,
22:21é notificado
22:21imediatamente,
22:22chega a Lisboa
22:224 ou 5 de dezembro,
22:23num instantinho,
22:24e é aclamado.
22:26Dom João IV
22:27não é um grande
22:28chefe político,
22:30é de alguma maneira
22:30empurrado
22:31para a situação
22:33de raiz
22:33e atuou muito,
22:34mas acabou
22:35por responder
22:36àquilo
22:37que dele
22:38se esperava.
22:39Aliás,
22:40o irmão dele,
22:41preso
22:41em Ratisbona,
22:44há de dizer
22:44espantosamente
22:45como é que se conseguiu
22:46convencer a ele
22:47ser o irmão
22:48a tomar
22:49esta decisão.
22:51Portanto,
22:51mesmo dentro
22:52da própria casa,
22:54se houve
22:54alguma surpresa
22:56no sentido
22:57de ele tomar
22:57e encabeçar
22:58depois
22:59a revolta.
23:00Eu não sei
23:01se o Dom João IV
23:01ganhou grande coisa
23:02na sua vida,
23:03a não ser uma carga
23:04de trabalhos,
23:05por ter passado
23:05do tranquilo
23:06do Bragança
23:06para o complicadíssimo
23:08e acossado
23:09rei de Portugal.
23:10Ele não participará
23:11nos próprios eventos
23:13de 1 de dezembro,
23:14mas seguramente
23:15que o 1 de dezembro
23:16avança,
23:16quando finalmente
23:17ele deu luz verde.
23:19Dom João IV
23:19é o homem
23:20que aproveita
23:21uma oportunidade
23:21correndo riscos.
23:22Seja por estrito
23:23à missão pessoal,
23:24seja por ter percebido
23:25que havia de facto
23:26uma vontade coletiva
23:29que ele podia corporizar,
23:30a verdade é que
23:31foi um homem
23:32que correu riscos,
23:33que arriscou,
23:34arriscou por uma
23:34causa coletiva.
23:36Podem encontrar-se
23:37algumas semelhanças
23:38entre a hesitação
23:39do que viria a ser
23:40D. João IV
23:40em 1640
23:42e a de D. João I
23:43na Revolução
23:44de 1383-85.
23:47D. João IV
23:48tinha, no entanto,
23:49a vantagem genética
23:50de ser descendente
23:51dos dois grandes
23:52protagonistas
23:53da Primeira Revolução
23:54portuguesa
23:54D. João I
23:55e Nuno Álvares Pereira.
23:58Os Ducos de Bragança
23:59durante os séculos
24:00XVI e XVII
24:01fizeram sempre
24:02questão de lembrar
24:02que eram descendentes
24:03diretos de Nuno Álvares Pereira
24:05e D. João I.
24:06O primeiro Ducos de Bragança
24:07era filho
24:08da bastarde
24:09de D. João I
24:10e tinha casado
24:11com a única filha
24:12de Nuno Álvares Pereira.
24:14E, portanto,
24:14o segundo Ducos de Bragança
24:15em seguida
24:16são todos descendentes
24:17deste casal.
24:18Portanto,
24:18os Ducos de Bragança
24:19tinham esta filiação
24:20indiscutida
24:21e grande parte
24:22da legitimidade
24:22do oitavo Ducos de Bragança
24:23ao proclamar-se
24:24D. João IV de Portugal
24:25assenta aí.
24:27O rei que saiu
24:28da Revolução de 1383
24:30e o rei D. João IV
24:32são, de facto,
24:35figuras e personalidades
24:36que hesitaram.
24:38Hesitaram porque
24:39tiveram a consciência
24:41do enorme desafio
24:43que iriam enfrentar,
24:45das gigantescas dificuldades
24:46que iriam enfrentar.
24:52Penso que um e outro
24:57tinham a consciência
24:58de que as guerras
24:59iam ser duras,
25:00o esforço militar
25:01iria ser enorme.
25:08Tal como em 1383-85,
25:11as cortes são fundamentais
25:13para legitimar
25:13o nascimento
25:14de uma nova dinastia.
25:15Em Lisboa,
25:1659 dias depois
25:17da Revolução,
25:18o órgão mais democrático
25:20do reino
25:20começa por justificar
25:21a sua legitimidade
25:23em aclamar
25:23um novo rei.
25:25Ao contrário
25:26do que acontece
25:27em Espanha
25:27e em outras monarquias,
25:28os reis portugueses
25:29são aclamados
25:30e não coroados.
25:32Quanto ao tipo
25:32de coroa utilizado,
25:34D. Sebastião
25:35tinha inaugurado
25:36uma nova era.
25:39Quando se fala em reino,
25:41não é a mesma coisa
25:42que monarquia.
25:43Monarquia é um conceito
25:43espanhol.
25:44Não é aquela coroa
25:45que cria um círculo
25:48em torno dela
25:49e uma bola
25:50e com uma cruz.
25:51Isso é o conceito
25:52de monarquia.
25:52A nossa coroa
25:53é uma coroa aberta.
25:56É uma coroa
25:56que não tem bola
25:58por cima
25:58a fechá-la
25:59em termos de soberania.
26:01O rei
26:02é um
26:03primus
26:04interpares.
26:06É um
26:06alguém que está
26:08metido
26:09no corpo político
26:10como restante
26:11do corpo político.
26:12Não é soberano.
26:13Não está fora
26:14do corpo político.
26:15É apenas
26:15uma coroa
26:16igual à lá dos contos.
26:18É sua alteza.
26:19A alteza
26:21é um poder
26:21maior
26:23que o dos chefes
26:24feudais,
26:25mas é apenas
26:26um poder
26:27mais alto.
26:27Nós chamamos
26:28o rei
26:28sua alteza.
26:30Não chamamos
26:30sua majestade.
26:32A primeira coroa
26:33fechada
26:34que aparece
26:35na história
26:35política
26:36de portuguesa
26:37é quando
26:38o Dom Sebastião
26:39se encontra
26:39em Guadalupe
26:40com o tio
26:41Filipe II.
26:42Houve ali
26:43um desencontro
26:44semântico
26:44entre os dois
26:45porque o Filipe
26:46chamava o sobrinho
26:47sua alteza
26:48e o sobrinho
26:50reagiu
26:51e queria ter
26:52o tratamento
26:53que o Filipe
26:53tinha que era
26:54de sua majestade.
26:56O que sabemos
26:56é que o Dom Sebastião
26:57a partir daí
26:58fechou a caroa.
26:59Passou a ser
27:00um soberano
27:01absoluto
27:02passou a ser
27:03uma monarquia
27:04passou a ser
27:04uma majestade.
27:07O recém-aclamado
27:09Dom João IV
27:10num gesto
27:11de agradecimento
27:11e devoção
27:12entrega à coroa real
27:14a Nossa Senhora
27:14da Conceição
27:15de Vila Viçosa
27:16tornando-a
27:17rainha padroeira
27:18de Portugal.
27:19A partir desse momento
27:20os reis portugueses
27:22deixaram de usar
27:22a coroa na cabeça.
27:24Na Europa do século XVII
27:25para legitimar
27:27para justificar
27:28uma rebelião
27:30independentista
27:31como a portuguesa
27:32de 1640
27:33era necessária
27:35a figura
27:36de um príncipe
27:37de um soberano
27:38que representara
27:40a soberanía
27:41usurpada
27:42de uma nación.
27:43O duque de Bragança
27:44que tinha
27:45sangra real
27:46e que podia
27:47apresentarse
27:48ante a Europa
27:49e ante seus vasallos
27:50portugueses
27:51como um restaurador
27:52da independência
27:54roubada
27:54em 1580
27:56era esencial
27:57portanto
27:58para reunir
27:59a voluntad política
28:01dos vasallos
28:01e ganhar
28:02o respeito
28:03e o reconhecimento
28:05das potências europeas.
28:07E o que o Dom João IV
28:08faz para ser rei
28:09não é mandar tropas
28:10para a fronteira
28:11ou para o império
28:11é mandar cartas
28:12e através de um conjunto
28:13de cartas
28:14fui aclamado rei
28:15eu é que tenho o direito
28:16e portanto
28:16eu como sucessor
28:17dos reis de Portugal
28:18aceito esta
28:19esta aclamação.
28:22Em dezembro
28:23de 1640
28:24o futuro
28:25de Dom João IV
28:26era ainda
28:26uma grande incerteza.
28:28Do lado de lá
28:29da fronteira
28:29Filipe IV
28:30de Espanha
28:31III de Portugal
28:32ameaçava
28:33com uma invasão
28:34e garantia
28:34que o novo reino
28:35português
28:35não chegaria
28:36ao fim do inverno.
28:37Há uma imagem
28:49muito bonita
28:50sobre o 1640
28:52português
28:53que é a que fala
28:54de Dom João IV
28:56como rei
28:57de um só invierno.
28:59Se dizia
29:00os inimigos
29:00de Dom João
29:01diziam que
29:02só reinaria
29:04um invierno.
29:04É a que foi aclamado
29:06em diciembre
29:06de 1640
29:07se pensava
29:08que para a primavera
29:09de 1941
29:10quando o tempo
29:11atmosférico
29:12permite
29:13a campanha militar
29:14as tropas
29:16de um poderoso
29:17Filipe IV
29:17destruiriam
29:19a restauração
29:20portuguesa.
29:21Dom João IV
29:21não teve uma tarefa
29:22fácil
29:23porque
29:23desta vez
29:25não foi possível
29:26contar com
29:26o apoio
29:27da Inglaterra
29:28porque a Inglaterra
29:29atravessou
29:29talvez a sua pior década
29:31na história.
29:32Nós, em grande medida,
29:34dependemos muito
29:34do financiamento francês.
29:37Houve também a diplomacia
29:38o padre António Vieira
29:39teve um papel
29:40absolutamente impressionante
29:41o Brasil também
29:41conseguiu apoios
29:43nas províncias unidas
29:44conseguiu o apoio
29:45dos nossos judeus
29:46sefarditas
29:47que tínhamos expulsado
29:48antes
29:48e que também
29:49nos ajudaram
29:50depois com capital
29:51para armar
29:52os nossos exércitos.
29:53Após o 1º de dezembro
29:59de 1640
30:01Portugal tem
30:02um novo rei
30:02e é de novo
30:03um reino independente
30:05mas tem ainda
30:06de enfrentar
30:07a prova final
30:08e mais difícil
30:08resistir
30:10ao poderoso
30:10exército espanhol.
30:11E aí
30:17Tchau, tchau.
30:47Tchau, tchau.
31:17Tchau.
31:47Tchau.
32:47Tchau.
33:17Tchau.
33:47Tchau.
33:49Tchau.
33:51Tchau.
34:21Tchau.
34:51Tchau.
35:21Tchau.
35:23Tchau.
35:25Tchau.
35:27Tchau.
35:29Tchau.
35:31Tchau.
35:33Tchau.
35:35Tchau.
35:37Tchau.
35:39Tchau.
35:41Tchau.
35:43Tchau.
35:45Tchau.
35:47Tchau.
35:49Tchau.
35:51Tchau.
35:53Tchau.
35:55Tchau.
35:57Tchau.
35:59Tchau.
36:01Tchau.
36:03Tchau.
36:05Tchau.
36:07Tchau.
36:09Tchau.
36:11Tchau.
36:13Tchau.
36:15Tchau.
36:17Tchau.
36:19Tchau.
36:21Tchau.
36:23Tchau.
36:25Tchau.
36:27Tchau.
36:29Tchau.
36:31Tchau.
36:33Tchau.
36:35Tchau.
36:37Tchau.
36:39Tchau.
36:41Tchau.
36:43Tchau.
36:45Tchau.
36:47Tchau.
36:49Tchau.
36:51Tchau.
36:53Tchau.
36:55Tchau.
36:57Tchau.
36:59Tchau.
37:01Tchau.
37:03levado avante a sua desunião com a monarquia hispânica,
37:08não fora o apoio muito consensual
37:11das diferentes territórios ultramarinos.
37:15O caso mais interessante é Goa.
37:17A notícia só chega à Goa em setembro de 1641.
37:20E quando a notícia chega, o vice-rei hesita.
37:22O vice-rei tem que decidir e o vice-rei tem a família em Madrid.
37:25E o vice-rei era Leal, era Filipe IV inicialmente.
37:27Enquanto hesita, a notícia transpira para a rua.
37:29E quando a notícia transpira para a rua,
37:31o vice-rei é confrontado com manifestação.
37:34E é confrontado com necessidade,
37:35que é melhor aclamar já a Dom João IV,
37:36se não, porque a dúvida do vice-rei era muito simples,
37:38é eu chego a Lisboa e se venho com a bandeira do Cobragança
37:41e já lá está outra vez o Filipe, tiro uma cabeça.
37:43Se venho ao contrário, tiro uma cabeça também.
37:45Isto é um risco muito grande.
37:47Até que ele perceba ou aclame já a Dom João IV ou fico já sem cabeça.
37:50E portanto, a rua de Goa aclamou espontaneamente Dom João IV.
37:55A guerra da restauração foi o conflito militar mais prolongado
37:58de toda a história de Portugal.
38:00Durou uns longos 27 anos.
38:03Mas só 20 anos depois do golpe palaciano de 1640,
38:08é que o rei espanhol invadiu Portugal.
38:15Porque Cataluña era o frente prioritario para as tropas de Filipe IV.
38:20Sempre o foi. Por dois motivos, basicamente.
38:23Primeiro, porque fazer a guerra contra os catalanes
38:27era, na verdade, fazê-la a França.
38:30Não esquecemos que os catalanes,
38:31depois de uma experiência mínima republicana
38:35de uma semana de independência,
38:37se entregan ao reino de França,
38:39quedam convertidos em vasalhos de Luís XIV,
38:42é França a que se anexiona a Cataluña,
38:44e, portanto, o interesse de Filipe IV não é já recuperar a Cataluña,
38:49é fazer retroceder a França até os Pirineos.
38:53Isto permite dar oxígeno aos portugueses, evidentemente.
38:58E essa prioridade que se mantém até a reconquista
39:02quase total de Cataluña,
39:04lhe vai dar a Portugal 20 anos
39:06para fortalecer-se, consolidar-se
39:09e preparar-se para o ataque final militar.
39:13Madrid teve que fazer opções
39:15e pensou que Portugal podia esperar.
39:17Portugal não saía do sítio, não estava, não é?
39:19Estava encurralado com o oceano.
39:23E quando a Espanha, de facto,
39:25dirigiu a sua atenção contra Portugal,
39:28militarmente falando,
39:29já tinham existido apoios internacionais.
39:32Os ministros espanhóis que sempre diziam
39:35que cada ano que passara com Portugal independente
39:39seria mais difícil recuperar
39:41os corações dos portugueses.
39:44Quando por fim Filipe IV pode invadir ou atacar Portugal,
39:48há passado toda uma geração de portugueses
39:52acostumbrados a outro regime político absolutamente soberano.
39:57E isso é um fator clave.
39:58Esse tempo, esses 20 anos que vão ter os portugueses
40:02para, digamos, preparar-se para a guerra,
40:04efetivamente, permitem reordenar, reconstituir,
40:09digamos, sobre todo, as fortalezas fronterizas,
40:12que era o mais importante daquela guerra.
40:15Foi uma guerra essencialmente de atrito nas fronteiras.
40:19Batalhas campais houve poucas.
40:20São duas batalhas,
40:22extremos e montes claros,
40:24porque depois de montes claros,
40:26os espanhóis já não têm possibilidades financeiras
40:28para encetar a tentativa de reconquista de Portugal.
40:32Nessa altura, Portugal, com Dom João IV,
40:35era um império com uma dimensão mundial
40:37e foram travadas batalhas também no império,
40:41com a reconquista de Holanda,
40:42a reconquista de Angola, de São Tomé e Príncipe,
40:44através de um exército que partiu,
40:47não de Lisboa, do Rio de Janeiro.
40:49Foi, de facto, um período extremamente duro e violento,
40:54mas a verdade é que Portugal conseguiu reerguer-se
40:58e conseguiu impor à Espanha uma paz,
41:01uma paz vitoriosa.
41:06Antes de ser rainha por um dia de portuguesa toda a vida.
41:09Antes de ser rainha por um dia de portuguesa toda a vida.
41:12Ao lado de Dom João IV esteve Dona Luísa de Lusmão,
41:15uma mulher espanhola que desempenhou um papel central
41:18na restauração da independência portuguesa.
41:20A ela se atribui a frase
41:22antes de ser rainha por um dia do que duquesa toda a vida.
41:26Dona Luísa de Lusmão é um caso interessantíssimo,
41:28porque é uma rainha de fibra.
41:30Foi regente do reino a seguir à morte do marido.
41:33É durante a governação de Dona Luísa de Lusmão
41:35que a guerra da restauração entra na fase decisiva
41:38e, portanto, Dona Luísa de Lusmão
41:40é uma peça incontornável na história da própria restauração.
41:44Na nossa história de Portugal,
41:45da maneira como foi narrada,
41:47da maneira muito misógina,
41:48tende a tornar opaca a imagem das inúmeras mulheres
41:51que tiveram um papel decisivo na história de Portugal.
41:53Mas o papel está lá.
41:54É uma questão só de escavarmos um bocadinho.
41:56Mas os factos foram os factos.
41:58E nos factos estão as mulheres.
41:59Dona Luísa de Lusmão é uma dessas mulheres
42:00incontornáveis e decisivas na história de Portugal.
42:03A restauração de Portugal é um dos acontecimentos
42:13da história da Europa mais importantes do barroco.
42:17Durante 60 anos, Portugal pouco mais foi
42:21do que um satélite do grande Império Espanhol,
42:23esse vasto território onde o sol nunca se punha.
42:26Em 1640, um punhado de nobres portugueses
42:30enfrentou teimosamente as forças de Filipe IV de Espanha
42:33e, contra todas as probabilidades,
42:36saiu triunfante.
42:37Portugal perdoou Don Sebastião,
42:40encontrou uma nova dinastia
42:41e a normalidade foi reposta.
42:44Desde então, não mais voltámos a perder a independência.
42:49Para um espanhol,
42:51a restauração portuguesa é, sobretudo,
42:54um capítulo de a decadência da Espanha.
42:57Durante o século XVIII,
42:59há documentos de um valor extraordinário
43:01onde, uma e outra vez,
43:04se fala de que Espanha, sem Portugal,
43:07não pode ser uma potência.
43:09Não volverá a ser-lo nunca.
43:11O que acontece?
43:12E que a restauração confirma de vez
43:13é que Portugal cresce em território no Brasil,
43:16cresce em território em África
43:17e conserva as áreas territoriais que tinha na Ásia.
43:22É interessante, a raiz disto,
43:24reflexionar sobre o problema que se generou,
43:29sobretudo em Portugal,
43:30mas também em Espanha,
43:32sobre o uso da palavra Espanha.
43:36Espanha deriva do latim Espanha.
43:38Por tanto,
43:39só se pode chamar Espanha,
43:42aquele país,
43:43quando falamos políticamente,
43:44que reúne toda a península ibérica
43:48sob a sua soberania.
43:50com a separação de Portugal,
43:52Portugal dizia que Espanha
43:55não podia chamar Espanha.
43:57Era Castilla,
43:58mas Castilla tampouco é suficiente
44:00para explicar o que era Espanha.
44:02Se generou um problema
44:03que, no final,
44:04não tem solução.
44:05Nós sabemos que, do lado espanhol,
44:07houve sempre um outro olhar frustrado,
44:10quase, sobre este retângulo
44:11que escapou a Madrid.
44:13Sabemos que, ainda o generalíssimo Franco,
44:15teve planos para invadir Portugal.
44:16É sabido e assegurado por todos
44:19que a fronteira de Portugal
44:21com Castilla, com Espanha,
44:24é, sem lugar a dúvida,
44:26a fronteira mais estable
44:27e mais antiga da Europa.
44:30E isso, os portugueses e os espanhóis,
44:33devemos nos sentir muito orgulhosos.
44:35Porque foi uma fronteira
44:37que nunca se parou,
44:39mas que quase sempre nos uniu.
44:47O que fica de 1740 para o século XXI
44:49é a convicção segura
44:52de que, em 1740,
44:54a população portuguesa queria ser portuguesa
44:55e não queria ser espanhola.
45:05E aí
45:08Abertura
45:38Abertura

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