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Transcrição
00:00:00O Rio Grande do Sul enfrentou uma das maiores tragédias climáticas de sua história.
00:00:22A água subiu sem pedir licença, arrastando casas, sonhos, histórias.
00:00:28Mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas.
00:00:31Famílias inteiras perderam tudo.
00:00:33Algumas até mesmo o direito de se despedir.
00:00:38Um ano depois, o documento Jovem Pan volta no Estado com a repórter Beatriz Manfredini,
00:00:43que está aqui no estúdio comigo.
00:00:45Seja muito bem-vinda.
00:00:47Beatriz encontrou um cenário ainda de dor e também de esperança.
00:00:52De esperança, Elisa.
00:00:53As pessoas não desistiram de reconstruir as vidas.
00:00:57Mas é bastante chocante voltar ao lugar um ano depois.
00:01:00Eu tive a sensação de que o tempo parou, como se o relógio tivesse congelado.
00:01:04Porque quando a gente desce nas cidades mais atingidas e nos bairros mais afetados, o rastro
00:01:10de destruição ainda está lá.
00:01:12As casas pela metade, construções abandonadas, estruturas que sobraram.
00:01:16Inclusive, eu ouvi de um morador que a vida dele não é só uma história, como muitos
00:01:22estão ouvindo.
00:01:23A esperança é o dia-a-dia dele ainda hoje, um ano depois, porque ele não conseguiu voltar
00:01:27para a casa que ele morava, nem para o trabalho que ele tinha e ainda não conseguiu reconstruir
00:01:31a vida.
00:01:32Mas eles não desistiram, Elisa.
00:01:34Muitas histórias marcantes.
00:01:35É o que você vai conferir agora na reportagem especial da Beatriz Manfredini, Arthur Cipriani
00:01:41e do repórter cinematográfico Guilherme Cassiano.
00:01:53Reconstrução.
00:02:02Uma palavra que se tornou frequente no vocabulário dos gaúchos no último ano e que ainda deve
00:02:08ser repetida por muito tempo.
00:02:10Um ano após a tragédia que marcou a história do Rio Grande do Sul e do Brasil, muitos ainda
00:02:19não conseguiram retomar a rotina e estão longe de recuperar o que tinham antes da enchente.
00:02:26É só quem passa para saber.
00:02:29Pode dizer assim, ah, eu imagino que eles estão passando, ah, não é tanto assim,
00:02:35ah, porque vai chover, não vai ser nada.
00:02:37Não, é automaticamente, começou a chover, você pode conversar com qualquer pessoa aqui
00:02:44do bairro que vai te dizer a mesma coisa.
00:02:46Começou o pânico.
00:02:49Além de reparar os danos materiais e emocionais ainda muito presentes, há um desafio ainda
00:02:56maior em jogo, garantir que a história não se repita.
00:03:00Em 27 de abril de 2024, uma mudança brusca na paisagem e na vida da população teve
00:03:09início.
00:03:10Naquela data, fortes chuvas começaram a atingir a região dos vales, com ampliação para
00:03:16diversas partes do estado por mais de 10 dias, sobrecarregando as bacias dos rios Taquari,
00:03:23Caí, Pardo, Jacuí, Sinos e Gravataí, chegando também ao Guaíba e à Lagoa dos Patos.
00:03:30Em 2 de maio, o rio Taquari passou dos 30 metros de altura, no maior nível da história.
00:03:40No dia seguinte, o nível do Guaíba chegou a 4,77 metros, ultrapassando o recorde de
00:03:471941 e ainda subiria mais, atingindo, dias mais tarde, o maior nível já registrado,
00:03:55em 5,33 metros.
00:03:58Assim, a água alcançou lugares antes nunca atingidos.
00:04:02O caos começou em Porto Alegre, a capital gaúcha, no dia 3 de maio daquele ano.
00:04:09As águas do rio Guaíba atingiram os pontos principais da cidade, inclusive o mercado
00:04:15público, um dos cartões postais por aqui.
00:04:19Ele ficou fechado mais de um mês e só conseguiu reabrir as portas efetivamente depois de ser
00:04:26inundado no dia 18 de junho.
00:04:35Nesse ponto, bairros inteiros já tinham sumido.
00:04:38Crianças, idosos, homens, mulheres e animais eram resgatados do telhado das casas, completamente
00:04:45submersas.
00:04:46Voluntários arriscaram a vida para ajudar e alertas de evacuação eram emitidos.
00:04:56Além disso, diversas cidades já estavam completamente isoladas, com a destruição
00:05:01de pontes e estradas, e o aeroporto internacional Salgado Filho, de Porto Alegre, fechava as
00:05:07portas após ser completamente tomado.
00:05:10Prefeitos chegaram a declarar que algumas cidades, como Eldorado do Sul e Arroio do
00:05:14Meio, não existiam mais.
00:05:17478 cidades foram atingidas, o que representa 96% do estado.
00:05:25Quase 2 milhões e 400 mil pessoas foram afetadas.
00:05:29184 morreram e, até hoje, 25 estão desaparecidas.
00:05:35Ardolino Mário, morador do bairro Sarandi, na zona norte de Porto Alegre, um dos lugares
00:05:40mais atingidos na capital, relembra que demorou a acreditar que a enchente chegaria na casa
00:05:46dele.
00:05:47Mas a água não só chegou, como alcançou os 2 metros e 9 centímetros.
00:05:52Marca que a casa dele, para onde voltou, carrega até hoje.
00:05:57Mário voltou para resgatar os cachorrinhos, o pacote e a gorda, mas perdeu tudo dentro
00:06:03de casa.
00:06:04Hoje se sente uma pessoa diferente.
00:06:07Não passava pela cabeça que essa água tomaria o volume que tomou.
00:06:12Então nós ignoramos, não que nós não acompanhássemos, nós estávamos acompanhando,
00:06:17mas ignoramos aquilo, tipo assim, não, não vai passar disso, não, não vai passar disso.
00:06:22E nós observávamos que a água vinha vindo e já observávamos as bocas de lobo que elas
00:06:27estavam enchendo.
00:06:28Bom, chegou, aí a movimentação começou a ser cada vez maior, começou a chegar caminhão
00:06:37para resgatar pessoas.
00:06:39Nesse meio tempo já começou o voluntariado.
00:06:43Entrou o voluntariado, o voluntariado civil, né, aí esse voluntariado já começou a
00:06:51chegar e auxiliar barquinhos, caminhão e já trazer pessoas.
00:06:57E as pessoas começaram a migrar para a direção da CIS-Brasil.
00:07:01Bom, foi passando o dia, nós não acreditávamos, eu continuava não acreditando, as minhas
00:07:08esposas, os vizinhos, tudo, e nós circulando por aqui, até que em determinado momento
00:07:14a água chegou no meu portão.
00:07:16Aí o meu filho, o Wagner já estava aqui, pai, nós temos que ir embora, tu tem que
00:07:21ir embora daqui, essa água vai subir, eu já estive na região de Canoa, se eu não
00:07:25me engano, e a água subiu e também as pessoas não acreditavam e começou a insistir comigo.
00:07:31O Wagner meio incisivo nas coisas.
00:07:34Aí o Salomão, que é o outro filho, ele também entrou em pânico, ele disse assim,
00:07:40isso aqui vai encher, vai encher, e eu não acreditava.
00:07:45Chegou num ponto, quando chegou no meu portão, me acendeu o alerta, está na hora de sair.
00:07:50Já em Cruzeiro do Sul, na região do Vale do Taquari, a Bel e a família esperaram 48
00:07:55horas por resgate.
00:07:57A gente estava esperando uma enchente como se fosse a de setembro de 2023, que a nossa
00:08:04casa foi afetada pela água, mas não pela grandiosidade que foi a de 2024.
00:08:10A gente levantou os móveis, esperando uma certa metragem, e atingindo aquela metragem
00:08:16ia ser seguro, ficar lá com a minha família, eu já avisei que a casa tinha dois andares,
00:08:20então ia ser tranquilo.
00:08:21A gente esperava que a água não subisse tanto, na verdade.
00:08:32Tinha um vento gelado, bastante serração, que é a tipo pra região de Várzea, no período
00:08:38de chuva, vai registrar serração diferente de áreas serranas.
00:08:41E naquele momento, o vice-governador entra pela rádio e anuncia que estourou a represa
00:08:47lá em cima, estourou a barragem, e que a água iria se elevar a seis metros.
00:08:51Naquele momento, eu e meu padrasto, a gente fica em silêncio, um olha para o outro, depois
00:08:55de um minuto, um minuto e meio, a gente fala assim, tu olha pra cima e tu não tem mais
00:08:59seis metros pra subir, tu pensa, eu vou subir no forro, eu tenho três metros de margem,
00:09:04mas eu não tenho seis.
00:09:06A gente ficou em silêncio, cogitou hipóteses, ah, eu vou me agarrar no botijão de gás,
00:09:10minha mãe vai pegar a bombona de água, eu vou me abraçar num freezer que sobrou.
00:09:14A gente começou a cogitar essas hipóteses.
00:09:16Naquele momento, a gente pega uma faca, corta um quadrado no forro pra ver se consegue colocar
00:09:20a avó pra cima do forro, que a avó tem 80 anos, é mais habilitada, pra depois a gente
00:09:25subir e tentar, porque a gente ia fazer o que custar pra se salvar.
00:09:36A gente estava no segundo andar, aguardando resgate, aquela vez que passavam aeronave,
00:09:41a gente ia pra fora da janela, da sacada, abanava panos pra sinalizar e chamar a atenção
00:09:47de que ali haviam pessoas que precisavam ser resgatadas, porque o nosso medo era que a
00:09:52casa fosse embora, que ela não resistisse à pressão da correnteza, porque batia galho
00:09:57contra a casa, árvore, tudo que a correnteza trazia, parte disso batia contra a casa,
00:10:03então o medo era que a casa não resistisse, que tudo viesse abaixo, a gente fosse junto
00:10:07e fosse arrastado pela correnteza.
00:10:09E é na manhã da sexta-feira, os resgates noturnos eram suspensos, porque não tinha
00:10:13condição, não tinha visibilidade, chamavam de teto, de visibilidade, que os pilotos denominam
00:10:20dessa maneira.
00:10:21E aí, às oito da manhã, quando o repórter entra ao vivo do Parque do Imigrante, que
00:10:25era o lugar onde era o QG, que era o ponto forte, que eles traziam os resgatados, o repórter
00:10:32lá anuncia, ó, as aeronaves agora estão abastecidas, estão levantando o voo para
00:10:37fazer o resgate.
00:10:38Naquele momento, eu olho para a minha família e digo assim, vai chegar a nossa vez hoje.
00:10:42A região do Vale do Taquari virou quase um sinônimo de alerta climático no Rio Grande
00:10:49do Sul.
00:10:50Em menos de um ano, entre 2023 e 2024, o lugar viu três grandes enchentes devastarem
00:10:56casas, ruas e avenidas.
00:11:01Ruas como Mussum, Roca Salles, Arroio do Meio e Encantado foram especialmente atingidas.
00:11:08Hoje, um ano depois das maiores cheias, em maio de 2024, muitos desses municípios ainda
00:11:16exibem as feridas a céu aberto.
00:11:19Aqui, por exemplo, existia um cemitério.
00:11:32Em Arroio do Meio, no interior do estado, o bairro Navegantios, muito próximo ao rio
00:11:37Taquari, ficou completamente devastado.
00:11:41Agora, o que restam são estruturas, esqueletos do que foi a vida aqui um dia.
00:11:48Tudo isso dá uma ideia da dimensão da força da água.
00:11:53A cena é comum e se repete cidade a cidade.
00:12:05Eduardo, nascido e criado em Mussum, conta que tentou reconstruir a casa em que morava
00:12:10com a mulher e o filho repetidas vezes.
00:12:13Nos fundos, funcionava a empresa de estética automotiva.
00:12:17Perdeu tudo.
00:12:18E sempre quando sobrava dinheiro, eu investia na estética.
00:12:22Daí, vamos botar tudo aluzingo.
00:12:24Botamos aluzingo.
00:12:25Daí, quando terminei de pagar a última parcela do aluzingo, veio a enchente setembro.
00:12:31Só que aqui nós éramos acostumados sempre a ter enchente, entre aspas.
00:12:35Daí, o que era a gente se prevenir?
00:12:38Levantar, pegar os cavaletes do salão, botar a cama, botar as roupas em cima e assim indo.
00:12:45Subia um metro, um metro e pouco.
00:12:46Porque aqui sempre vinham centímetros, a sujeira, né?
00:12:51Daí tá, beleza.
00:12:52A gente botou ali, só que daí começou a vir água, vim água, vim água.
00:12:57E a gente já pensou, pronto, vai dar B.O.
00:13:01E foi o que aconteceu.
00:13:02Como setembro nós tínhamos perdido tudo, daí eu falei pra minha esposa, nós tínhamos
00:13:08dinheiro guardado.
00:13:09Eu disse, vamos pegar mais um dinheiro no banco e vamos realizar o nosso sonho, que
00:13:12eu vou mostrar pra vocês, que é a piscina.
00:13:15Mas eu vou mostrar a casa aqui também.
00:13:17A casa aqui, ela era toda projetada.
00:13:21Isso foi depois de setembro que a gente fez de tijolo, já pensando se viesse outra.
00:13:26Então você preparou a sua casa, depois de perder tudo em setembro, pra ser a sua casa
00:13:31dos sonhos, mas também já com algumas obras, assim, de contenção, digamos?
00:13:35Na verdade, não.
00:13:37Porque nunca aconteceu uma enchente dessa proporção, né?
00:13:41Então, como eu acho bonito assim, de tijolo assim, a gente já começou a fazer coisas
00:13:46diferentes, né?
00:13:48E daí aqui na sala nós tínhamos lareira, nós tínhamos aquário, aqui no quarto, onde
00:13:54era o quarto do meu filho, era pequeno, mas tinha beliche, um escorregador, tudo que eu
00:14:01não tive, eu quis dar pro meu filho, né, na intenção de eu ficar feliz e ele ficar
00:14:08feliz também, né?
00:14:10Hoje, ele desistiu do que chama carinhosamente de casa dos sonhos.
00:14:15Restam as memórias e a certeza de que ele não vai abandonar a cidade que teve 80% do
00:14:22território tomado pelas águas.
00:14:24A gente se acostumou a aprender no novo, sabe?
00:14:28Eu não me abalo, não me abalo por pouco.
00:14:30Eu sou resiliente, não adianta eu sentar aqui, chorar e esperar vir alguma coisa, não.
00:14:37Só tem que levantar a cabeça, limpar e trabalhar, ir atrás.
00:14:42Daí em novembro, quando deu aquela, que só deu sujeira, daí eu falei pra minha esposa,
00:14:49não, não vamos mais ficar aqui, porque quando tu tá ali dentro de noite, tu fica pensando,
00:14:55cara, a água veio aqui, a água passou.
00:14:57E se nós estivéssemos em casa, nós teríamos morrido, porque a gente passou por um monte
00:15:00de situações.
00:15:01Na última eu quase morri tentando salvar o Pinhão e a Zélia, que são pessoas queridas
00:15:05da gente.
00:15:06Ela tava com os papagaio lá e eu disse a ela, vem, vem, vem.
00:15:11E ela, eu não consigo sair, tô nervosa, né?
00:15:15Fui lá com a água no tornozelo, correndo, quando eu cheguei perto dela veio uma onda,
00:15:20uma onda.
00:15:21Uma onda, daí começou a subir, subir, subir, eu já não dava mais pé, eu mandei ela subir
00:15:26pro segundo andar, daí tinha eu e a guria que tava, nossa, tu tá andando, tu tá achando
00:15:32gente.
00:15:33Ela já vive, eu empurrava ela, eu me impulsionava dentro da água pra subir, e daí quando tu
00:15:41subia assim, eu consegui me agarrar numa cerca, quando tu vinha assim, era rato vindo, eram
00:15:47animais, sabe?
00:15:48Em cima das tábuas, sapo, coisas que tu morre de medo, naquela hora lá tu tava criando
00:15:53coragem e tu aprende a valorizar, a valorizar, porque hoje a gente tá aqui, amanhã a gente
00:15:59não sabe.
00:16:01O prefeito de Mussum, Matheus Trojan, conversou com o repórter Arthur Cipriani.
00:16:06Ele contabiliza os prejuízos somados das enchentes.
00:16:10Imaginem um município do tamanho de Mussum, menos de 5 mil habitantes, um orçamento anual
00:16:14estimado em 2025 de 40 milhões, tendo que lidar com o prejuízo somado entre espaços
00:16:21públicos, privados, as casas particulares das pessoas, em mais de meio bilhão de reais.
00:16:27Então as novas estruturas que estão sendo reformadas nos prédios públicos, nas escolas,
00:16:32nas avenidas, elas têm também essa preocupação, que a gente possa tornar a cidade mais resistente
00:16:38a possíveis novas inundações, para ter uma recuperação mais rápida nas áreas
00:16:42que permanecerão, mesmo que estejam na mancha de inundação, mas ao mesmo tempo também
00:16:46migrar as áreas de risco extremo ou que foram totalmente destruídas, permitindo dessa forma
00:16:51também que o desenvolvimento do município aconteça.
00:16:58Maneco Hassen, secretário do Governo Federal para a Reconstrução no Rio Grande do Sul,
00:17:04destaca a dificuldade de realização de obras em municípios menores e afirma que o Governo
00:17:10Federal está investindo em começar um sistema de proteção de enchentes para o Vale.
00:17:17Nós já temos muitas obras, cerca de mil obras a serem realizadas em parceria com os municípios.
00:17:23Seja uma reconstrução de pontes, reconstrução de escola, pós-saúde, enfim, porque a destruição
00:17:28foi muito grande.
00:17:29Só para ter uma ideia, nós autorizamos, empenhamos recursos para a reconstrução de
00:17:34mais de 330 pontes em 126 municípios, para ter uma ideia do tamanho da destruição.
00:17:41Muitas delas ainda não começaram, por uma série de questões, mas principalmente porque
00:17:45os municípios, especialmente os pequenos, não têm estrutura técnica para poder tornar
00:17:49tudo isso ao mesmo tempo.
00:17:50Então, a gente continua com esta parceria, auxiliando naquilo que é possível para poder
00:17:55acelerar estas obras.
00:17:57E terceiro, viabilizar, acelerar, cobrar do Governo do Estado para que ele atualize rápido
00:18:04os projetos e licite as obras de proteção à região metropolitana, que isto é fundamental.
00:18:11Se inventa de chuveia, se inventa de a gente chegar perto do que é necessário,
00:18:16se inventa de chuveia, se inventa de a gente chegar perto de uma tragédia como esta,
00:18:20nós precisamos que estas obras estejam em andamento para que a população da região metropolitana
00:18:25sofra menos do que sofreu nesta tragédia.
00:18:34O Vale do Taquariz sequer tinha estudos sobre a sua bacia e sobre aquilo que é possível
00:18:39fazer para amenizar os efeitos das enchentes.
00:18:41Neste R$ 6,5 bilhões para a região metropolitana, tem ali R$ 16 milhões, que é o valor para
00:18:47fazer o projeto, o estudo do Vale do Taquariz, que aqui na região metropolitana pelo menos
00:18:51isto já existia e lá no Vale do Taquariz ainda não.
00:18:54Então, lá nós vamos dar este primeiro passo, que é fazer os estudos para entender toda
00:18:59a bacia do Rio Taquariz, seus afluentes, seus arroios, enfim, e ver o que é possível fazer
00:19:05para proteger melhor aquela cidade, porque todas elas nasceram na beira do rio, todas
00:19:10elas regularmente sofriam e sofrem com enchentes, mas sempre enchentes, entre aspas, controláveis,
00:19:16aquela que a população já estava acostumada.
00:19:19Mas, nos últimos anos, especialmente em setembro de 2023, depois em novembro de 2023, e aí
00:19:26esta, de maio de 2024, que foi a maior de todas, fizeram com que a região entendesse
00:19:32que não é mais aquelas enchentes normais.
00:19:36Segundo o secretário, o governo federal investiu cerca de 100 bilhões de reais no Estado.
00:19:42Questionado sobre os desafios para o próximo ano, ele destaca a habitação como um problema
00:19:48que parece longe de acabar.
00:19:50No auge da tragédia, mais de meio milhão de pessoas ficaram desalojadas e cerca de
00:19:5580 mil desabrigadas.
00:19:57Foi o que aconteceu com o seu Mário na cidade de Rocaçalhas.
00:20:01O que tinha aqui antes, Mário?
00:20:03Eu tinha minha casa, nós morávamos, e eu tinha duas casas de aluguel para me garantir
00:20:09no futuro a minha aposentadoria, que não é muito alta, né?
00:20:13É uma aposentadoria assim para sobreviver, né?
00:20:16E daí eu tinha duas casas alugadas, né?
00:20:19Era uma fonte de renda a mais, né?
00:20:22E agora eu vou ter que começar a trabalhar de novo, né?
00:20:26Eu sofri um câncer há três anos atrás, estou carregando bolsa, né?
00:20:32E eu vou ter que voltar a trabalhar, porque até agora eu não ganhei nada.
00:20:37Como é que foi? Tivemos setembro uma enchente?
00:20:40Em setembro veio, destruiu a parte do fundo do banheiro, eu reconstruí.
00:20:45Eu tinha um quiosque lá embaixo, onde é que tem aquele pé de bergamota,
00:20:49ali eu tinha um quiosque, também levou tudo embora de setembro, né?
00:20:53E a de maio de 24 foi maior?
00:20:55Essa de maio levou então tudo, o que sobrou levou o resto, né?
00:20:58Como é que foi? O senhor estava aqui no dia da enchente?
00:21:01Não, nós estávamos do outro lado, porque em setembro nós estávamos aqui.
00:21:04E em setembro dois autos na enchente também.
00:21:07Eu levei mais para um lugar alto, né?
00:21:10Só que entrou água também, né?
00:21:12Daí eu tinha dois autos fora, eu tinha botado os documentos
00:21:16e uma televisão dentro do carro, né?
00:21:19E eu perdi todos os documentos, tudo, tinha que fazer tudo novo.
00:21:22Tudo, tudo.
00:21:24Como é que está sendo para o senhor de um ano para cá?
00:21:26Ah, está difícil a coisa.
00:21:28Muito difícil.
00:21:31Muito difícil.
00:21:34Porque a gente, eu...
00:21:37Como eu falei para o senhor, eu tinha essas rendas aí,
00:21:41só que agora é difícil tu viver.
00:21:45A dificuldade é grande.
00:21:47Além das casas destruídas, restam algumas abandonadas.
00:21:51Mas seu Mário tem fé e acredita que vai reconstruir com o pouco que restou.
00:21:57Se o senhor pudesse reconstruir aqui, o senhor reconstruiria?
00:21:59Eu vou reconstruir.
00:22:01Não sei o que vou fazer neste momento, mas eu não tenho chance, eu vou ter que construir.
00:22:06Vou fazer um baraco ali, tem os pisos ali, eu vou levantar.
00:22:11Vou fazer um telhadinho ali para...
00:22:14Não adianta.
00:22:16Assim como o Mário, muita gente ficou sem dinheiro.
00:22:19Assim como o Mário, muita gente ficou sem ter para onde ir.
00:22:22Quase 900 abrigos foram criados.
00:22:25Agora, o fechamento desses locais acontece em maio.
00:22:29No total, segundo a gestão, neste último mês de funcionamento,
00:22:32cerca de 400 pessoas seguiam morando nos centros de acolhida.
00:22:37Nove abrigos restaram oficialmente.
00:22:40Os maiores, em Canoas, cidade que lidera o número de mortos no estado,
00:22:44foram 31 no total, e onde a água avançou sobre 60% do território,
00:22:49e na capital, em Porto Alegre.
00:22:53Eugênio Guimarães, coordenador de operações da ONU Migração
00:22:57e responsável pelo Centro Humanitário de Acolhimento e Esperança, em Canoas,
00:23:02explica como aconteceram os encaminhamentos dos últimos abrigados.
00:23:07E aqui a gente possui uma gama de atividades voltadas para o acolhimento.
00:23:14Principalmente, mas também, pensando que as pessoas possam retomar as suas vidas.
00:23:19Então, trabalho com equipes multidisciplinares,
00:23:21para que as pessoas possam ter capacitação profissional, oportunidades de emprego.
00:23:27Agora, mais fortemente, retomando as questões habitacionais,
00:23:33seja pelas políticas municipais, do estado e do governo federal.
00:23:38Então, a AM faz esse suporte.
00:23:40E a rotina do dia a dia, do CHÁ, consiste justamente em apoiar as famílias
00:23:44que precisam trabalhar, as crianças.
00:23:46Aqui tem um espaço voltado para atendimento às crianças,
00:23:49no contraturno das escolas, que é um trabalho que a gente vem fazendo desde o ano passado,
00:23:54que as crianças voltassem às escolas após os espaços estivessem totalmente habilitados a isso.
00:24:01No contraturno, as crianças ficam num espaço amigável para as crianças,
00:24:04sendo atendidas pela equipe multidisciplinar.
00:24:08Espaços voltados para o atendimento, como havia mencionado,
00:24:11capacitação profissional, vagas de emprego.
00:24:13Então, o refeitório, três refeições por dia, mais o lanche da tarde.
00:24:18Então, assim, todo esse acolhimento, fora o atendimento psicossocial,
00:24:22psicoemocional, que a gente vem fazendo, não somente a OIM,
00:24:25mas a equipe da OIM, mas Prefeitura, Estado, todos unidos para poder atender da melhor forma possível.
00:24:32Wagner foi um dos últimos a deixar o local.
00:24:35É grato e reforça a importância de ter o próprio lar.
00:24:40Eu tenho aquela coisa assim, os pés no chão.
00:24:43Eu não sou aquela coisa assim de, pum, me atirar no mundo.
00:24:46Não posso.
00:24:47Porque eu sei que eu vou passar trabalho.
00:24:50Então, eu tenho que te dizer uma coisa só.
00:24:53Eu tenho os pés no chão, eu dou um passo conforme a minha perna.
00:24:55Aqui é o meu passo.
00:24:57Aqui tá chegando o fim.
00:24:58Tá chegando o fim.
00:25:01Que, como eu disse, como a ONU pôde ajudar, eles ajudaram.
00:25:06Eles fizeram acolhendo.
00:25:08Então, o que?
00:25:09Agora tá chegando o fim.
00:25:12Então, agora que a guerra vai começar.
00:25:14Nem começou ainda.
00:25:16Acontecer a tua vida lá fora.
00:25:18Fora daqui.
00:25:19É isso que eu penso.
00:25:20Por isso que eu digo pra ti que eu tenho os pés no chão, dou um passo conforme eu tenho que dar.
00:25:24Agora, eu resolvo todas as minhas coisas.
00:25:25Eu tenho o meu ganho.
00:25:26Certo?
00:25:27Não tenho mais o benefício do governo, que é o bolso.
00:25:29Amém.
00:25:30Tenho só que agradecer.
00:25:31Por isso que eu digo pra ti.
00:25:32Tudo que eu ganho, eu agradeço.
00:25:34Minha arbitragem que eu faço, eu agradeço.
00:25:37Tudo.
00:25:39Porque Deus multiplica.
00:25:41Multiplicou pra João, não vai multiplicar pra mim, pra ti, pra ali, pro próximo, pro outro.
00:25:45É só tu ter fé.
00:25:46É só tu acreditar.
00:25:48E eu acredito.
00:25:49Só que daqui.
00:25:51Eu tenho o meu ganho.
00:25:52Lá fora vai ser outra guerra.
00:25:54Vai ser outra guerra.
00:25:55Lá eu vou ter que pagar o meu aluguel depois disso.
00:25:57Claro, vou alugar o aluguel social.
00:26:00Que eu seja abençoado.
00:26:02Mas, tem outras coisas.
00:26:05Uma coisa que eu penso.
00:26:07Tanto fora daqui a guerra vai começar lá fora.
00:26:09A guerra o quê?
00:26:10Eu sempre bateria o quê?
00:26:11Vai ter que ir no mercado.
00:26:14Vai ter que comprar carne.
00:26:15Vai ter que fazer janta.
00:26:16Fazer o almoço.
00:26:18Café da manhã.
00:26:19Café da tarde.
00:26:20Vai acabar com todo o respeito.
00:26:22O pessoal aqui, todo mundo, vai acabar mamado.
00:26:26Isso aqui vai acabar um dia.
00:26:28Eles tem que ir fazer outra missão deles.
00:26:31Nós temos que seguir nosso propósito lá na frente.
00:26:34E a guerra nem começou.
00:26:36Maria, acolhida na casa Violeta, abrigo destinado a mulheres e crianças em Porto Alegre,
00:26:41chegou ao local após perceber que sozinha não conseguiria recomeçar a vida depois de perder tudo.
00:26:49Eu aprendi que sozinha a gente não consegue muita coisa.
00:26:53E aí, precisei de uma rede de apoio.
00:26:57Não dava para seguir sozinha.
00:26:58Eu vim para a Casa Violeta.
00:27:00Um dia antes, eu estava me sentindo muito frágil e invisível para o mundo.
00:27:08Eu tinha recebido muito não, uma tentativa de recomeçar e eu não consegui.
00:27:14E, de repente, eu recebi um sim da Casa Violeta.
00:27:17Então, eu cheguei aqui, eu literalmente fui abraçada.
00:27:21De todas as formas possíveis.
00:27:23Eu fui cuidada.
00:27:25Eu sou cuidada aqui como eu nunca fui cuidada na vida.
00:27:29No abrigo, juntou dinheiro com cursos e aulas que participou para retomar a normalidade.
00:27:35Eu devo me mudar agora no começo de maio e vamos retomar a vida, né?
00:27:40Mas nem todo mundo conseguiu um recomeço para chamar de seu.
00:27:43Andressa, que mora no mesmo abrigo com a filha, já passou pela casa de familiares e outros lares temporários diferentes.
00:27:51Como eu sou corretora de imóveis, um cliente meu da corretagem me emprestou um imóvel que estava à venda.
00:28:00Ele falou, Andressa, você pode ficar nele? Esse imóvel já está à venda faz três anos.
00:28:04E fica nele até eu vender, não tem tempo, né?
00:28:08E não tem custo, só paga a conta da luz e o condomínio.
00:28:10Em quatro meses eu vendi o imóvel dele.
00:28:14E aí comecei com o meu desespero para onde eu e a Alice iríamos nesse período, né?
00:28:21Que eu não tinha como alugar um imóvel.
00:28:24Eu não tenho quem possa me emprestar o nome para fazer o aluguel.
00:28:30E eu conheci a Paula. A Paula trabalhava aqui na Casa Violeta.
00:28:34Eu trabalhei com a mãe dela através de um trabalho voluntário.
00:28:37A ONG dos Doutorzinhos. Eu sou uma palhaça de hospital.
00:28:41E aí a mãe da Paula, a Lúcia, minha colega de dupla, de doutorzinhos.
00:28:48Eu fiquei sabendo através dela que a Paula estava ajudando nas enchentes e estava aqui na Casa Violeta.
00:28:54Aí eu chamei a Paula, conversei com ela, vim aqui na casa, conheci eu e a Alice.
00:28:59Eu acho bem importante eu levar a Alice sempre em todos os lugares onde a gente pode vir a ficar.
00:29:03Porque ela é importante para mim também, né? E é a nossa caminhada, né?
00:29:08Então ela tem que estar ciente de onde a gente vai ficar.
00:29:11E ela tem que concordar também, né? Porque ela tem que se sentir à vontade.
00:29:15E aí conversei com as gurias, com a coordenação da Casa Violeta, e-mails.
00:29:20E fui aprovada para ficar aqui.
00:29:23Desde novembro ela está na Casa Violeta.
00:29:26O lar dela mesmo ainda está fechado.
00:29:28Andressa morava no bairro Humaitá, um dos mais afetados pelas enchentes na capital gaúcha.
00:29:34Hoje a condição do apartamento é vazio, sem piso, sem paredes nas áreas frias, que eu tive que tirar tudo.
00:29:44E aguardando doações para eu conseguir fazer essa obra que eu preciso no meu apartamento para poder voltar.
00:29:51O meu piso era de parquê, então eu tive que tirar todo o parquê.
00:29:55As paredes todas ficaram mofadas, tive que raspar.
00:29:59Então eu preciso de doações hoje para voltar para o meu imóvel.
00:30:03A casa fecha mês que vem, em maio.
00:30:06E eu estou procurando um imóvel para eu e minha filha ficar até a obra do meu apartamento ficar concluída.
00:30:13Que eu não sei te dizer o período, porque estou aguardando doações.
00:30:16Aqui na Casa Violeta as gurias fazem esse movimento também para conseguir pessoas que façam esse tipo de doação de materiais de acabamento final no imóvel.
00:30:30Que é piso, tinta e todo aquele cimento, cimento cola, que precisa para restaurar o imóvel e eu poder retornar.
00:30:38A vida não voltou ao normal agora.
00:30:40O constante pensamento de que eu preciso voltar para casa ele martela todo dia.
00:30:45A gente precisa voltar, a gente precisa voltar.
00:30:48De vez em quando eu penso que esse tempo todo, um ano que passou, está querendo me dizer alguma coisa.
00:30:54Que não precisa voltar, você tem um espaço em outro lugar.
00:30:59Penso de novo.
00:31:01Mas aquele imóvel que eu tenho é a única coisa que eu tenho.
00:31:05E lá tem muitas memórias, já faz 30 anos que eu tenho aquele imóvel.
00:31:09Então as memórias do papai estão todas lá dentro.
00:31:12Da infância, da juventude, até 19 anos que o papai teve conosco.
00:31:17Então é um pouquinho difícil para eu liberar esse espaço lá agora.
00:31:21Por isso que eu estou nessa tentativa até hoje, um ano ainda, tentando voltar para o meu imóvel.
00:31:27Desafio.
00:31:28Prioridade, voltar para casa.
00:31:30Mas antes disso, a saúde mental dela é bem importante para mim também.
00:31:36Então a gente tem que estar em lugares que a gente possa ficar tranquila.
00:31:40E conseguir levar o 2025 até o objetivo final, que é a casa.
00:31:45O Endosoha é um universo tão grande como o espírito humano.
00:31:50Todos os inscritos, os professores, todo o conhecimento relacionado aos inscritos.
00:31:54E os cientistas, que têm dados no mundo,
00:31:57eles nasceram nas 3!
00:32:00E eles mewan que o mundo donoso,
00:32:03a comunidade,
00:32:05os estudantes,
00:32:07aqueles que trabalharam na Santa Cláudia,
00:32:10que trabalham para acontecer outros acontecimentos.
00:32:13Um endereço fixo, uma casa definitiva e principalmente um lar seguro, são os desejos de quem ainda
00:32:23hoje fecha os olhos e vê só uma imagem, a água chegando e o desespero por resgate.
00:32:30Recordações de um trauma ainda presente, principalmente para quem mais espera ajuda.
00:32:36A vida virou de cabeça para baixo mesmo para aqueles que de alguma forma conseguiram voltar
00:32:44para casa.
00:32:45É o caso de Carla Patrícia da Silva, moradora de Canoas há 20 anos, perdeu tudo, inclusive
00:32:52o emprego.
00:32:53Para conseguir voltar para casa, pegou e limpou móveis que foram descartados por outros moradores.
00:33:00Mesmo assim, ainda falta mobília.
00:33:03A única coisa que deu para mim salvar aqui em casa foi a geladeira.
00:33:06A geladeira eu não levei mais, foi o que eu consegui salvar.
00:33:10Daí eu cozinho um amigo do meu marido que vendeu para o meu marido, onde que o meu marido
00:33:13trabalha, que o meu marido trabalha de limpeza desses lixos aí, a mamãe trabalha nisso.
00:33:19Daí a geladeira eu consegui salvar, isso aqui a gente achou na rua, essa mesa, ganhamos.
00:33:25Daí essas cadeiras foram algumas pessoas que botaram fora, eu peguei, recadei, lavei com
00:33:30lava jato, a maioria das coisas foi com lava jato.
00:33:33Esse sofá uma prima minha me doou, a cama foi que eu peguei também, não vou te mentir,
00:33:39peguei daí, lavei a minha cama, a cama do meu pai, dos meus guris, só que eu não consegui
00:33:44dar roupeiro para mim, nem para os meus guris, nem para o meu pai.
00:33:50Condições precárias dentro das casas e também nas ruas.
00:33:55Um ano depois das enchentes, a reportagem ainda encontrou muito lixo em diversas regiões
00:34:04do Rio Grande do Sul.
00:34:05Aqui em Matias Velho, bairro mais afetado de Canoas, cidade da região metropolitana
00:34:11de Porto Alegre, os moradores relatam que a população ainda está voltando para as
00:34:16casas e quando retornam, fazem a limpeza, o que ocasiona muito lixo ainda nas ruas.
00:34:23Além disso, muitas casas estão trancadas desde a época das enchentes, o que também
00:34:28torna o ambiente mais sujo nas proximidades e na vizinhança.
00:34:39Quem não tem escolha encara os desafios, mas o medo de voltar a enfrentar uma tragédia
00:34:44como a do ano passado faz parte do dia a dia das pessoas por aqui.
00:34:49Muitos tentam sair das áreas mais afetadas pelas chuvas, mas não é fácil.
00:34:58Placas de vende-se e aluga-se se tornaram comuns aqui pelas ruas de São Leopoldo, região
00:35:04metropolitana de Porto Alegre, e também pelas ruas de tantas outras cidades afetadas.
00:35:10Os moradores até tentam vender os imóveis de bairros atingidos, mas o valor caiu muito,
00:35:16o que tem dificultado essas tratativas.
00:35:20Além disso, as casas para alugar ou para vender dividem espaço com as casas que ficaram
00:35:25abandonadas, com um cenário ainda muito parecido com o fim das enchentes.
00:35:31Tudo isso mudou drasticamente a paisagem desses bairros.
00:35:36Rafael Padoin Nene, vice-presidente de comercialização do Sindicato da Habitação do Rio Grande
00:35:43do Sul, explica que, após um momento convivido pelo Estado, a forma de negociar a venda
00:35:49de imóveis muda, justamente com foco na transformação.
00:35:53Quem fica busca alternativas para evitar grandes estragos em caso de novas enchentes.
00:35:58O valor do mercado vai depender muito da necessidade do proprietário.
00:36:09Então, por exemplo, nesse caso específico, uma família mais humilde, que é o único
00:36:14imóvel dela, é na região que foi afetada, ela já perdeu tudo, é bem provável que
00:36:21ela tenha ido com alguma receita familiar, a renda familiar dela, ela tenha ido para
00:36:30uma casa de algum parente, amigo, ou ela, bem provável, alugou o imóvel em outra região
00:36:38para, aos poucos, se restabelecer financeiramente, e ela tem aquele imóvel dela colocado à
00:36:45venda.
00:36:46Então, aí vem bem em cima dessa tua pergunta.
00:36:47Eu tentei criar aí um histórico, uma trilogia prática do que pode acontecer.
00:36:54Então, esse imóvel, ela vai ter uma necessidade urgente de venda e ela vai ter uma redução
00:37:03de público comprador.
00:37:06Ela não vai ter a mesma pessoa que nem ela, o mesmo perfil dela, querendo morar lá, é
00:37:15uma substituição do seu José pelo seu José II e sua família.
00:37:22Esse seu José não vai bater na porta dele.
00:37:25Então, esse imóvel pode ser absorvido para outra atividade.
00:37:30Foi o que fez a família do Leonardo de Novo Hamburgo.
00:37:34Nós tínhamos reformado há pouco tempo, era tudo gesso, tinha os divisórios, o quarto
00:37:39da nenê, o meu quarto, e encheu até a altura ali, que tem a marca ali, ali que tem a altura
00:37:49ali, encheu.
00:37:50Então...
00:37:51Para a gente tentar pensar que a altura é essa, quanto você mede, Leonardo?
00:37:55É em torno de 2,75 que tem ali.
00:37:58A gente mediu na época, e daí quando baixou a água, baixou tudo, né?
00:38:03Todas as paredes que eram de gesso caíram, tanto é que no quarto aqui, na verdade, a
00:38:08gente está bem acampado, a gente não comprou mais nada, a gente não tem mais uma segurança,
00:38:12né?
00:38:13Então a gente não comprou nada, a gente ficou com as roupas tudo na parede aí, né?
00:38:18Você falou que você tinha feito o quarto da sua filha aqui num roupinho, no pronto?
00:38:22Isso, eu tenho um vídeo, depois eu vou te mostrar.
00:38:24Aqui o quarto da minha filha, tinha um roupeiro, tinha uma escrivania, uma penteadeira, um
00:38:30móvel todo sob medida, toda uma coisa que a gente fez há anos, a gente vai inventando
00:38:35e guardando para ter o melhor, né?
00:38:37Para a gente, para a família.
00:38:39E acabou indo embora, né?
00:38:41E vocês ficaram nesse meio tempo que ficou cheio?
00:38:44Quanto tempo ficou cheio a sua casa?
00:38:46Ficou 21 dias, se não me engano.
00:38:47Vocês ficaram onde?
00:38:48A gente ficou acampado em cima.
00:38:50A gente subiu, a gente subiu as coisas que deu aqui, e a gente foi subindo a escada e
00:38:56a água não parava, não parava, a gente começou a se assustar, né?
00:38:59Chegou um ponto na enchente que nós quebramos, abrimos o forro do banheiro lá, a gente quebrou,
00:39:05abriu o telhado para se a água não parasse, a gente subiu no telhado, né, mas graças
00:39:09a Deus.
00:39:10Já tinha um plano B.
00:39:11Parou, é, a gente ficou com o plano B.
00:39:14E aí, quando baixou a água, a cena aqui embaixo?
00:39:19De guerra, de guerra, e foi assim, ó, quando foi baixando, dá um lodo muito forte, então
00:39:26enquanto baixou, a gente comprou uma roupa mais alta, né, que a gente conseguia caminhar
00:39:31aqui dentro, a gente já veio e começou a tocar meio que assim com a própria água,
00:39:35mesmo se tirar o lodo da parede, sabe?
00:39:37A gente limpou tudo aqui embaixo, tiramos as coisas para rua, no outro dia encheu tudo
00:39:42de novo, né, eu não sei o que foi feito ali, voltou a encher, e a gente ficou mais uma
00:39:48semana com a água assim, nessa altura assim, de não poder andar dentro.
00:39:54O que ele e a família aprenderam com tanto sofrimento, além de se adaptar, é não ter
00:39:59expectativas.
00:40:01Não tem, tá bagunçado, tá, a gente organiza, mas não vai comprar um roupeiro, não vai
00:40:07mandar fazer um móvel para o banheiro, não vai fazer nada, né, a gente tá vivendo conforme.
00:40:12A casa que vocês estão construindo é em outro lugar?
00:40:15É no lado, só que é no segundo andar, né, a gente já tinha o terreno do lado ali, então
00:40:20no segundo andar a gente fez uma laje e temos construído o círculo.
00:40:24Ah, aquela obra ali que eu vi quando a gente estacionou o carro.
00:40:26Então a ideia de vocês é meio que realmente...
00:40:29Abandonar aqui embaixo, não tem, não cria uma expectativa, a gente vai botar o que a
00:40:35gente conseguir, consiga assim, ah, começou a chover, vai dar uma enchente, vamos tirar
00:40:40e vamos levar para outro lugar, depois a gente volta de novo, né.
00:40:44Essa era o pensamento da gente hoje, não tem confiança, né, até porque tu não vê
00:40:50agora, que nem eu estava te comentando, agora que começou movimentações da prefeitura
00:40:55de limpar, limpar roio, limpar os caminhos, só que não tem um projeto que, bah, aqui
00:41:01vai ser feita uma casa de bomba e isso não vai mais acontecer, né, nós não temos essa
00:41:04expectativa, entendeu?
00:41:05Vocês não sentem essa segurança?
00:41:07Não tem.
00:41:10Tipos diferentes de auxílio foram disponibilizados para quem teve a casa afetada pelas águas.
00:41:16Ainda em 2025, os municípios estão realizando visitas técnicas com o objetivo de entender
00:41:22se uma casa atingida é habitável ou inabitável.
00:41:25No último caso, a pessoa é encaminhada ao programa do Governo Federal Compre Assistida,
00:41:30parceria com a Caixa Econômica Federal, que compra imóveis de até 200 mil reais para
00:41:35essa população.
00:41:37Segundo o balanço da gestão, um ano depois, duas mil casas foram compradas, de um total
00:41:43de 20 mil famílias.
00:41:45O Governo Federal também criou o Auxílio Reconstrução, pagamento de 5 mil e 100 reais,
00:41:50enviado a 430 mil famílias gaúchas.
00:41:54Já na esfera estadual, o secretário de Habitação do Rio Grande do Sul, Carlos Gomes, citou
00:41:59ações tomadas.
00:42:01Ele falou sobre a dificuldade de encontrar terrenos em cidades muito atingidas pela chamada
00:42:06mancha de enchente.
00:42:08Conforme o restabelecimento foi acontecendo, foi entrando o momento da nossa secretaria,
00:42:19que ela faz parte, eminentemente, do momento da construção e da reconstrução.
00:42:25Então nós fomos à campa, fizemos um chamamento público ainda no mês de junho, para que
00:42:32os municípios pudessem fazer a sua manifestação de quantas casas iam precisar daquelas que
00:42:40foram, evidentemente, destruídas.
00:42:43Desse chamamento público, nós chegamos a um quantitativo de quase 4.600 unidades habitacionais
00:42:54solicitadas pelos municípios, em mais ou menos 87 municípios, os mais afetados.
00:43:02E nós pedimos à nossa equipe técnica de corpo de engenheiros, arquitetos, que fossem
00:43:08a esses municípios para ver se havia terreno em condição de receber casa, porque muitas
00:43:16cidades, principalmente no Vale do Taquari, elas tiveram a cidade com seu território
00:43:22comprometido em muitos, de 85% a 90% de baixo d'água.
00:43:28Então nós teremos que ver se os terrenos estariam em lugar seguro, longe da mancha
00:43:33de enchente, para que não pudéssemos causar mais traumas a essas famílias.
00:43:40Então a equipe saiu em campo, identificou terrenos, pouquíssimos, principalmente no
00:43:45Vale do Taquari, em condição de receber casas do Estado.
00:43:53Segundo o levantamento estadual, 2.405 residências foram classificadas como destruídas.
00:44:00O governo criou um projeto para ajudar as famílias atingidas pela enchente.
00:44:05São as casas provisórias, pequenos lares seguros para as pessoas morarem enquanto aguardam
00:44:10a construção das casas definitivas.
00:44:16Bom, e a nossa reportagem veio conferir de perto essas casas provisórias.
00:44:21Elas têm 27 metros quadrados e são todas iguais.
00:44:25Aqui atrás de mim, por exemplo, tem o quarto.
00:44:28Ele é equipado com uma cama de casal, um beliche e um guarda-roupa.
00:44:33Depois, quando a gente continua andando, vem a sala, tem um sofá que pode virar sofá-cama,
00:44:38então comporta mais pessoas, uma mesa também com cadeiras.
00:44:43Aqui tem um banheiro, então, para essas pessoas utilizarem e a gente termina o percurso dentro
00:44:49dessa habitação com a cozinha, que vem equipada com geladeira, pia, fogão e tanque.
00:44:55Fernando Ialuc, engenheiro responsável pelo Módulo Habitacional Transportável, como
00:45:00é tecnicamente chamado, explica que o governo do estado contratou 625 casas como essas.
00:45:07A ideia é que, depois de usadas, elas sejam realocadas.
00:45:11Elas são casas que a gente chama de casas provisórias.
00:45:16Elas são feitas em uma unidade de fabril que nós temos aqui na cidade de Ivoti.
00:45:22Elas vêm absolutamente prontas, com já toda a instalação elétrica, a instalação hidráulica,
00:45:29mobiliadas inclusive.
00:45:31Então, basicamente, elas são apoiadas em sapatas que são instaladas no terreno e assim
00:45:39que elas cumprem a função dela de servir como uma moradia provisória, o estado tem
00:45:53basicamente a liberdade de vim e içá-las, porque basicamente elas têm pontos de içamento,
00:45:59ela vem e içá-las e realocá-las aonde houver uma outra necessidade.
00:46:07Tendo estoque, a gente monta essas aqui em 3, 4 dias.
00:46:11E aí, basicamente, é fazer a rede, interligar essas casas na rede hidráulica e na rede
00:46:17elétrica da área para que elas estejam plenamente funcionando.
00:46:25Segundo o governo do estado, a cidade de Aldorado do Sul foi a mais atingida, com 80,8% da população
00:46:32afetada, seguida de Mussum, com 66,3% e Canoas, com 60%.
00:46:39Aldorado do Sul foi uma das cidades mais atingidas pela tragédia.
00:46:44Na época, a gestão municipal disse que o local tinha praticamente sumido do mapa.
00:46:51De acordo com órgãos oficiais, 98% da cidade foi atingida e 80% dos domicílios foram afetados
00:47:00pela inundação.
00:47:02Um ano depois, não é difícil encontrar as marcas dessas enchentes.
00:47:08Além disso, há muita dificuldade de encontrar na região novos territórios que sejam seguros.
00:47:16O governo federal também criou um fundo de R$ 6,5 bilhões para obras estruturais de
00:47:21proteção contra enchentes.
00:47:24O objetivo é construir ou reforçar sistemas já existentes na região metropolitana de
00:47:29Porto Alegre.
00:47:30O secretário de Reconstrução do Rio Grande do Sul, Pedro Capellupi, disse que a estratégia
00:47:35é fazer a menor quantidade de deslocamentos populacionais possível.
00:47:47Nós temos que trabalhar e fazer um grande esforço para deslocar o mínimo possível
00:47:51as pessoas dos seus lares, mas, ao mesmo tempo, garantir que elas estejam em áreas seguras.
00:47:58O município de Eldorado, por exemplo, é, de fato, um local que está muito sujeito
00:48:03e enfrenta enchentes recorrentes há muito tempo.
00:48:07Então, ali, por isso, nós temos um projeto para a construção de uma solução estrutural,
00:48:13ou seja, a construção de diques no entorno do município para que, associado ali à utilização
00:48:21de casas de bomba, você consiga tirar a água que entra e impedir que a água do rio Jacuí
00:48:28entre na cidade.
00:48:29Mas esse é um trabalho de mais longo prazo, o projeto está sendo desenvolvido, está
00:48:34sendo adaptado.
00:48:35Todas as intervenções, todas as obras que vão ser executadas a partir de agora precisam
00:48:41levar em conta os novos padrões hidrológicos, então eles vão ser calculados com base nos
00:48:47parâmetros de onde a água chegou agora, na pior cheia de todos os tempos, além de,
00:48:54claro, outras simulações também, que envolvem a recorrência desses eventos, para que a
00:48:59gente tenha ali uma segurança estatística, que a engenharia calcula, para que estejamos
00:49:05preparados para o enfrentamento dessa situação que, como você disse, de fato, acaba acontecendo
00:49:14muito mais do que nós imaginávamos.
00:49:16Lugares que não têm mais condições de moradia vão ter outros rumos, como conta
00:49:21Arthur Cipriani.
00:49:22Os municípios ainda trabalham em obras estruturais, em alguns locais onde não é mais permitida
00:49:28habitação, parques serão construídos, aqui na RS-130, a ligação entre os municípios
00:49:34de Lajado e Arroio do Meio foi reconstruída, uma nova ponte foi erguida com 5 metros a
00:49:39mais de altura, no rio Jacuí, e a construção de uma nova ponte foi realizada, que vai
00:49:45ter 5 metros a mais de altura, no rio Forqueta.
00:49:47Essa ponte havia sido levada em maio de 2024, e agora, poucas semanas atrás, teve a sua
00:49:54reinauguração.
00:49:55De acordo com dados do Plano Rio Grande, 10 pontes e mais de 8 mil quilômetros de estrada
00:50:04de responsabilidade do governo do estado foram danificados.
00:50:09Em Das Casas, segundo o governo do Rio Grande do Sul, por meio do Mapa Único, 770 escolas
00:50:16foram atingidas e 243 equipamentos de saúde.
00:50:20Em Canoas, o Hospital Pronto Socorro da cidade ainda está fechado, ele foi completamente
00:50:26afetado.
00:50:27Desde então, a equipe do local atua junto com o Hospital Nossa Senhora das Graças,
00:50:32dificultando os atendimentos na região.
00:50:35As obras de recuperação do hospital estão atrasadas, como explica o prefeito da cidade,
00:50:40Ayrton Souza, que descarta abandonar bairros muito atingidos.
00:50:45Nós temos uma situação bem complexa, porque iniciou-se uma licitação, onde depois, no
00:50:54início da obra, se averiguou que não tinha a equipe, a parte elétrica não estava contemplada
00:51:03no orçamento, a licitação.
00:51:06Então, deu uma trancada, estamos trabalhando forte para liberar os recursos também, para
00:51:12poder realmente fazer a obra andar de forma mais célebre.
00:51:16Hoje a obra está muito lenta, acredito que antes de um ano não será restaurado com
00:51:22condições de uso o nosso HPS.
00:51:25Enquanto isso, ele está dentro de uma outra unidade, que é o Hospital Nossa Senhora das
00:51:29Graças, que já não comporta ele mesmo, muito mais difícil que uma outra estrutura
00:51:34hospitalar dentro do Gracinha.
00:51:36Nós estamos fazendo um estudo, em parceria com o Governo do Estado, com a Secretaria
00:51:40de Saúde do Estado, para realocar o HPS, tirar de dentro do Hospital Nossa Senhora
00:51:46das Graças e colocar ele no Hospital Universitário, que tem uma outra estrutura para melhor atender
00:51:51a nossa população, porque hoje o nosso HPS serve de referência para 102 cidades do Rio
00:51:58Grande do Sul.
00:51:59Então, ele tem uma capacidade de atendimento, mas na sua instalação anterior.
00:52:05Hoje, dentro de uma outra unidade, fica bem difícil, realmente, o trabalho.
00:52:14Segundo o Governo Federal, neste momento, existem 1.300 planos aprovados com a defesa
00:52:20civil, tanto do Estado quanto dos municípios, em obras de construção.
00:52:25Já o Governo do Rio Grande do Sul afirma que R$ 6,9 milhões foram investidos, até
00:52:31o momento, por meio do Plano Rio Grande.
00:52:34Individualmente, muitas cidades trabalham na construção ou reforço de diques e na
00:52:39melhoria do sistema de bombas.
00:52:42Porto Alegre é uma delas.
00:52:44Por lá, com o extravasamento do Guaíba, 46 dos 96 bairros foram afetados, impactando
00:52:51diretamente cerca de 160 mil pessoas.
00:52:55O sistema, de 1970, possui 68 quilômetros de diques, 14 com portas, 22 casas de bombas
00:53:04e o muro da Mauá.
00:53:05Em maio de 2024, 19 das 22 casas de bomba falharam.
00:53:11A água do Guaíba vazou e diques romperam.
00:53:14O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, explicou que a gestão se dividiu em etapas
00:53:19para a realização das obras, mas destacou a necessidade de um trabalho conjunto com
00:53:25outros municípios.
00:53:26Isso não é uma proteção de cheia em qualquer região de uma cidade do Brasil ou do mundo
00:53:35que seja de uma cidade.
00:53:38Então, você tem obras que são nossas municipais, que mesmo que a proteção de cheia seja uma
00:53:44responsabilidade federal pela nossa Constituição, nós estamos refazendo hoje com dinheiro próprio.
00:53:51Não tem dinheiro federal, mesmo que seja hoje um compromisso do governo federal.
00:53:56Mas se não tiver obras ao longo desses rios que chegam aqui, ou seja, bacias de contenção,
00:54:02retenção de água, bacia de amortecimento, tragagem dos rios, canais que precisam ser
00:54:12desassoleados, ou seja, é um conjunto de obras que vai fazer uma cidade, ele que tem a proteção
00:54:19de cheias.
00:54:20Então, parte nós estamos fazendo.
00:54:22A governança que se deu de lá para cá, o Estado com a União combinaram que estas
00:54:29obras, que são além de municípios, a União fez um depósito de R$ 6,5 bilhões, que na
00:54:36minha avaliação é insuficiente para essa quantidade de obra, mas é o início desse
00:54:40processo e quem vai coordenar estas obras intermunicipais, ou seja, que perpassa mais
00:54:48de um município, é o Governo do Estado.
00:54:50Então, a gente precisa casar tudo isso e o Estado tem na sua Secretaria de Reconstrução,
00:54:56Porto Alegre tem o seu Escritório de Reconstrução, e nós estamos trabalhando muito parceiro
00:55:01nesse processo.
00:55:02Em outubro, a Prefeitura de Porto Alegre contratou uma empresa para fazer um diagnóstico
00:55:09sobre o sistema atual de proteção contra enchentes, além de um estudo para a criação
00:55:14de um mecanismo de defesa na Zona Sul, atualmente descoberta.
00:55:19Vicente Perrone, diretor executivo do Departamento de Água e Esgoto de Porto Alegre, explica
00:55:25que essa é uma medida a longo prazo, já que a previsão do término dos estudos é
00:55:29para o segundo semestre de 2026, mas ressalta que obras de melhorias no curto prazo estão
00:55:35sendo realizadas.
00:55:41A gente instituiu uma diretoria de proteção contra a cheia e drenagem urbana, então
00:55:46o diretor já está trabalhando com vários fornecedores para melhorar a operação dessas
00:55:51casas de bomba.
00:55:52A gente hoje chega a praticamente 100% das redes pluviais limpas por hidrojateamento
00:55:59por supersugadores, então a gente já tem um cenário muito melhor do que tínhamos
00:56:05antes da enchente e pós-enchente, então todo esse trabalho vem sendo feito por um
00:56:10time muito grande de pessoas do próprio DEMAI e terceirizados, junto com a Defesa Civil,
00:56:16que instituiu, vamos dizer, uma sala de meteorologia própria junto com a Secretaria de Meio Ambiente,
00:56:22Urbanismo e Sustentabilidade, o Escritório Municipal de Reconstrução, junto com o Governo
00:56:26do Estado, então são muitas frentes aí, diversos milhões de investimentos que já
00:56:32foram feitos e previstos daqui pra frente.
00:56:34Vamos lá, o estudo foi feito em nove etapas, o planejamento dele foi feito em nove etapas,
00:56:39três já foram entregues, o final dele vai ser no final do primeiro semestre de 2026,
00:56:44então é um trabalho de praticamente dois anos, a gente sabe da urgência do tema e
00:56:48da angústia da população, mas é importante que se tenha o cuidado desses parâmetros
00:56:55entregues pela consultoria, serem padrões verdadeiros e de bastante relevância e concretude.
00:57:04A partir daí, existem diversas formas, inclusive o prefeito, o governador, o nosso diretor
00:57:10geral, o diretor de drenagem foram à Holanda, agora o diretor-presidente foi aos Estados
00:57:14Unidos também, a convite do governo americano pra entender como funciona a proteção contra
00:57:22a fogueira cheia, a gestão de crise, então tudo isso a gente vem planejando pra entregar
00:57:27um sistema melhor pra cidade, então a gente refaz a operacionabilidade do atual sistema,
00:57:33melhorando as suas capacidades, vamos dizer, na atual estrutura e já temos diversos projetos,
00:57:39como eu disse de novo, as casas de bomba, de diques mais elevados, de fechamento de
00:57:43comportas, de comportas com melhores motores, então a gente fecha muitas dessas aberturas
00:57:50e faz com que a cidade esteja mais protegida.
00:57:53No bairro Sarandi, um dos mais atingidos pela inundação, a obra de elevação do dique
00:57:58de mesmo nome tem provocado impasses entre a prefeitura e os moradores.
00:58:03A gestão quer retirar 25 famílias do entorno para a realização das obras.
00:58:08Jean Paulo, morador do bairro há 47 anos, fala da insegurança que eles sentem até
00:58:13hoje e o medo de que a tragédia volte a acontecer.
00:58:17O impasse, a incerteza, a desconfiança, como eu te falei, a ansiedade e a depressão fizeram
00:58:26parte dos dias pós-enchente desse bairro, desta cidade, por que não dizer assim, eu
00:58:34acredito que teria que se fazer uma mega operação de desobstrução de redes, de fazer a dragagem
00:58:43do Guaíba, que seria competência do estado do Rio Grande do Sul, teria que ser feito
00:58:49para ontem, mas há uma burocracia, há alguns entraves que impede isso de acontecer.
00:58:56Se nós tivéssemos a garantia que o Guaíba fosse dragado, nós teríamos uma opção
00:59:03de um aprofundamento no Guaíba de que essa água não chegasse até nós, porque a preocupação
00:59:10é muito grande.
00:59:12Apesar das obras em andamento, não só em Porto Alegre, como na maioria das cidades,
00:59:17ainda há muito a ser feito.
00:59:28O documento Jovem Pan fica por aqui, mas semana que vem temos mais um programa especial sobre
00:59:33o estado que vive o desafio da reconstrução.
00:59:37Um ótimo fim de semana para você e até mais.
00:59:41Documento Jovem Pan A opinião dos nossos comentaristas não reflete
01:00:04necessariamente a opinião do Grupo Jovem Pan de Comunicação.
01:00:11Realização Jovem Pan News.

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