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00:00E o primeiro caso de gripe aviária numa granja comercial no Brasil foi identificado,
00:07segundo informou o Ministério da Agricultura e Pecuária na manhã desta sexta-feira.
00:13A detecção ocorreu em Montenegro, na região metropolitana de Porto Alegre.
00:19A gente recebe agora aqui ao vivo o virologista Anderson Brito,
00:24que é coordenador científico do Instituto Todos pela Saúde.
00:29Vamos lá receber o Anderson aqui ao vivo no Olhar Digital News.
00:34Vamos lá.
00:37Olá Anderson, muito boa noite. Seja muito bem-vindo aqui ao Olhar Digital News.
00:42Deixa eu colocar você aqui na tela cheia. Boa noite, bem-vindo.
00:45Olá Marisa, tudo bem? Boa noite.
00:49Muito obrigada pelo seu tempo, viu Anderson?
00:53Vamos conversar um pouquinho, Anderson, sobre esse caso.
00:57O que significa esse caso para a saúde pública do Brasil?
01:01Existe algum motivo para a preocupação da população?
01:07Inicialmente é bom salientar que focos de gripe aviária no Brasil já haviam sido reportados antes,
01:15em especial em animais silvestres e também em animais de subsistência.
01:22Esses animais que em geral são criados, aves, em fundo de quintal, por exemplo.
01:27Mas esse foco no Rio Grande do Sul é um pouco diferente justamente porque ele marca a entrada da gripe aviária
01:35agora no setor produtivo também, o que significa um risco ampliado a esse setor.
01:44Mas é importante frisar que, como você bem citou durante a sua pergunta,
01:51esse tema vai muito além da agropecuária.
01:54Ele é de fato um tema também de saúde pública.
01:57E, como tal, ele exige uma resposta intersetorial.
02:02Ele exige ações rápidas, coordenadas, que envolvem agricultura, saúde e outros setores envolvidos.
02:12O foco agora é conter o vírus para que ele não chegue constantemente em populações humanas.
02:20Porque o risco existe, mas ele é, neste momento, controlável.
02:25Mas ele exige essa vigilância ativa para que a gente possa avaliar eventuais riscos.
02:32Agora, falando nessa vigilância, o Anderson,
02:35como que ocorre a contaminação, digamos assim, dos seres humanos pela gripe aviária?
02:42As formas de transmissão desse vírus são diversas.
02:47Uma das principais é, de fato, o contato direto com secreções contaminadas com o vírus.
02:55Eu estou falando de saliva, fezes, nesse caso, de aves.
03:01Mas, como esse vírus infecta outros animais,
03:05então essas secreções contaminadas também podem ser um foco,
03:08caso a gente tenha contato direto com elas.
03:11Mas uma outra forma é, de fato, pelo ar.
03:13Porque esse vírus é um vírus respiratório, assim como o vírus da gripe humana.
03:21Então ele pode ser transmitido por micro gotículas de saliva,
03:26ou por poeira contaminada que, eventualmente, fica em suspensão e contendo o vírus.
03:34Então, essas partículas, quando inaladas, a gente também pode contrair o vírus dessa forma.
03:40Por fim, uma outra maneira de contrair o vírus é por meio de superfícies contaminadas.
03:46Quando a gente toca nessas superfícies e levamos a mão aos olhos, boca e nariz,
03:54está aí uma forma como o vírus também pode entrar em contato com as nossas vias aéreas.
04:00No entanto, é bastante importante salientar que não há transmissão sustentada entre humanos,
04:09ou seja, de uma pessoa para outra.
04:12Por enquanto, não há registros disso, mas o vírus segue evoluindo,
04:17porque ele tem infectado não só aves, como também bovinos e outros mamíferos.
04:22Anderson, a gente até percebe por outros países que a gripe aviária tem se tornado uma preocupação maior.
04:31É algo cíclico ou estamos diante de um possível problema sanitário mais grave,
04:38uma vez que se transformou em comercial, não?
04:41Sim, essa nova variante do vírus H5N1 não surgiu neste ano, digamos assim.
04:51Ela já circula desde 2020 e tem gerado casos em diferentes continentes,
04:57já foi detectado na Ásia, Europa e Estados Unidos, agora de forma bastante frequente.
05:04Então, esse vírus tem causado surtos esporádicos, mas ele vem se expandindo geograficamente
05:12e tem infectado diferentes animais agora com mais frequência, inclusive infectando humanos.
05:18Então, nesse processo, esse vírus vem adquirindo mutações genéticas
05:24que eventualmente podem facilitar a infecção desse vírus em outros tipos animais.
05:31A transmissão entre humanos, como eu já mencionei, ainda não foi identificada,
05:39mas infecções de animais para humanos, essa sim tem sido reportada
05:44e esse é justamente aquele momento que pode eventualmente dar oportunidade
05:48para que esses vírus se adaptem a hospedeiros humanos.
05:52Então, nesse sentido, é por isso que é extremamente importante a vigilância
05:56para que a gente evite esses contatos do vírus vindo de animais para humanos com muita frequência,
06:02porque é justamente nesse momento que o vírus pode eventualmente adquirir novas mutações.
06:09A maioria das infecções por esse vírus, ela pode ser tão leve ou até assintomática
06:16que é um fato que pode dificultar a detecção do vírus.
06:22Então, isso amplia os riscos envolvidos e, por essa razão, existe uma atenção global
06:28e continua contra ele para que a gente, de fato, evite que ele se torne um problema sanitário ainda maior.
06:37Agora, Anderson, com esse caso no Brasil, qual é o protocolo de segurança a ser seguido de agora em diante?
06:44Do ponto de vista agropecuário, já estão sendo adotados protocolos como, por exemplo,
06:52o isolamento imediato daquela granja, onde esse foco foi detectado,
06:58envolvendo inclusive o abate sanitário daquelas aves
07:02e o bloqueio de um raio em volta daquela granja
07:08como uma ação justamente feita para tentar conter este foco.
07:13O monitoramento de casos respiratórios em humanos,
07:19em especial aqueles humanos que têm muito contato com essas aves de criação,
07:24aves vivas, se torna agora uma medida extremamente urgente.
07:30O foco tem que ser nas aves, mas a gente também tem que ficar bastante de olho
07:35em eventuais infecções em seres humanos que também carecem de vigilância.
07:40Neste momento, então, seria ideal ações conjuntas de enfrentamento
07:46que envolvam a participação dos mais diversos setores,
07:50como saúde, agricultura, meio ambiente, entre outros setores envolvidos,
07:55porque trata-se de um problema definitivamente multidisciplinar
08:00e é assim que ele precisa ser tratado.
08:02Para isso, inclusive, já existe um plano de contingência do próprio Ministério da Saúde
08:08apontando medidas específicas relativas à vigilância laboratorial,
08:14capacitação profissional, compra de insumos para fazer diagnósticos
08:19e também comunicação entre esses diferentes setores envolvidos nesse tema.
08:26Está certo. Está aí Anderson Brito participando aqui com a gente no Olhar Digital News.
08:33Muitíssimo obrigada pelo seu tempo e por participar aqui conosco trazendo essas informações.
08:37Espero que nos encontrarmos em outras ocasiões.
08:40Muito obrigada e boa noite.
08:42Certinho, Marisa. Obrigado. Boa noite.
08:44É isso aí, pessoal. Está aí um assunto sério e que vocês ficam sempre muito bem informados aqui.
08:51Nós conversamos com Anderson Brito, que é coordenador científico do Instituto Todos pela Saúde.