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  • 29/04/2025
Em resposta à guerra comercial dos EUA, a Apple vai transferir toda a montagem de iPhones para a Índia até 2026. Em entrevista ao Real Time, Gustavo Macedo, professor de relações internacionais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), analisou o impacto geopolítico e econômico dessa decisão.

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Transcrição
00:00Olha só, em resposta à guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump,
00:05a Apple planeja transferir a montagem de todos os iPhones para a Índia até 2026.
00:11Esse movimento visa a reduzir os custos com tarifas,
00:15que já chegam a 245% para os produtos importados da China.
00:20Para entender as consequências dessa mudança estratégica da Apple,
00:24nós conversamos agora com Gustavo Macedo, professor de Relações Internacionais do IBMEC.
00:29Oi, Gustavo, muito bom dia para você. Seja bem-vindo ao Real Time.
00:34Muito legal nós falarmos dessas mudanças importantes da Apple.
00:37Eu já tenho aqui o nosso convidado. Agora sim, perfeito. Muito obrigado.
00:41Estou aqui com o Rodrigo Loureiro também, nosso analista, que vai ajudar nessa entrevista.
00:45Já vou emendar com uma pergunta, então.
00:47A Apple está planejando transferir, como eu disse, essa montagem de iPhones para a Índia
00:51para escapar das tarifas comerciais dos Estados Unidos.
00:54Qual vai ser o impacto disso na cadeia global dos iPhones?
00:59Olá, pessoal. Bom dia, é um prazer estar aqui com vocês de novo.
01:03Olha, a gente tem que olhar essa transferência, esse anúncio de transferência da Apple para a Índia,
01:08de duas maneiras.
01:09Em primeiro lugar, a própria Apple tentando se adequar a essa guerra comercial
01:14entre os Estados Unidos e a China, principalmente,
01:17para tentar se proteger um pouco do preço dos iPhones.
01:22A gente estava vendo, por exemplo, que o preço do iPhone ficaria absolutamente impraticável
01:26caso houvesse a transferência da produção para os Estados Unidos,
01:32tanto por questões de cursos, de pagamento de horas para o trabalhador norte-americano,
01:38quanto em relação à infraestrutura.
01:40As empresas nos Estados Unidos ainda não estariam preparadas para poder receber isso em tempo hábil.
01:46Mas, ao mesmo tempo, a gente tem uma transferência para a Índia,
01:49ou seja, a promessa do governo norte-americano era de trazer isso para os Estados Unidos.
01:55E a Apple percebeu que isso é impraticável,
01:57então agora precisa buscar uma segunda opção, jogar isso para a Índia.
02:02Levando isso para a Índia agora,
02:03a expectativa é de que a gente vai ter um possível reajuste nos preços,
02:08ainda não está muito claro o que isso pode significar em termos de reajuste.
02:15Provavelmente seria pouca coisa,
02:17porque, na verdade, a gente teria que pensar como é que isso vai ter impactos
02:20de cursos trabalhistas e de infraestrutura,
02:23mas a tentativa da Apple é de tentar fazer com que essa transferência
02:27não seja sentida no bolso do consumidor
02:30para tentar afetar o mínimo possível a receita da empresa
02:35e o consumidor também não ter falta de oferta de produtos.
02:40Professor Gustavo, bom dia.
02:43Essa decisão da Apple afeta severamente quem mais?
02:49Estados Unidos ou China?
02:50Porque a China perde uma big tech americana que produz os iPhones lá no país
02:56e também perde ali um poder de negociação com os Estados Unidos.
03:00Os Estados Unidos vão olhar para a China e vão falar assim,
03:02olha, vocês já perderam a Apple, eu já estou negociando com a Índia,
03:06então, China, é melhor vocês aceitarem o que a gente quer.
03:10Já para os Estados Unidos, como o senhor bem citou,
03:12os Estados Unidos têm um plano,
03:14o Donald Trump tem um plano de trazer as big techs
03:17para produzirem dentro do próprio país.
03:19Só que aí elas olham para mercados onde a produção é muito mais em conta,
03:23é muito mais barata.
03:25Como você bem disse, a produção de um iPhone dentro dos Estados Unidos
03:28seria muito cara.
03:29Tem algumas estimativas que apontam que o celular poderia custar
03:33mais de 3 mil dólares caso ele fosse produzido dentro dos Estados Unidos.
03:37Nesse contexto geral, quem perde mais?
03:40China ou Estados Unidos com essa nova jogada chamada Índia agora no mercado?
03:47Olha, nesse sentido, se a gente tivesse que comparar,
03:50quem perde mais certamente são os norte-americanos.
03:53Eles perdem, primeiro, em termos econômicos, por causa das tarifas,
03:58a gente está vendo já o impacto das tarifas na inflação,
04:01no dia a dia do consumidor norte-americano.
04:03E, em segundo lugar, eles perdem politicamente.
04:06Os Estados Unidos agora começam a aparecer pela primeira vez em muito tempo
04:10como um lugar de investimento com um grau médio de segurança
04:15para algumas empresas, inclusive empresas norte-americanas,
04:19como é o caso da própria Apple.
04:21A China, obviamente, perde parte da produção junto com a Apple,
04:27ela tem um impacto importante para a Índia,
04:29mas a Índia a gente não pode esquecer que a Índia tem,
04:31ela também é um gigante na área da produção de smartphones
04:35e outros equipamentos digitais,
04:38então a Índia não vai sentir do ponto de vista do mercado consumidor dela.
04:43E, obviamente, que a própria China pode rapidamente substituir,
04:47porque a China tem esse mercado dinâmico,
04:50ela pode rapidamente substituir e colocar outras empresas chinesas,
04:56inclusive, ou, eventualmente, receber outras empresas estrangeiras
04:58para ocupar, por assim dizer, esse vácuo deixado pela Apple.
05:02O que a gente entende é que a China percebe que tem uma gordura
05:05para poder queimar.
05:07Tudo bem, está indo para a Índia, não tem problema,
05:11a gente vai se recuperar rapidamente.
05:13Agora, do ponto de vista da imagem,
05:15quem mais sai arranhado, mais uma vez,
05:18é o mercado, é a economia norte-americana
05:20e as próprias empresas norte-americanas.
05:23Lembrando que, no caso da Apple,
05:25a Apple é uma das grandes empresas de tecnologia
05:27que vem apoiando o governo norte-americano,
05:30fazendo uma aproximação, as lideranças dessa e de outras empresas de tecnologia.
05:36Fizeram um apoio massivo agora com o início do mandato do governo Trump
05:41e elas começam, eu não vou dizer que elas já começam a repensar essas escolhas,
05:47mas você vê várias lideranças no mercado,
05:50em Wall Street, em outros mercados internacionais,
05:53agora começando a questionar qual é a validade desse apoio
05:57por um presidente que tem representado prejuízos milionários para essas empresas.
06:06Uma coisa interessante também de notar é que,
06:08no início do jornal, nós trouxemos uma entrevista do Scott Bassett
06:12à CNBC americana, dizendo que os Estados Unidos
06:15podem fazer um acordo comercial com a Índia.
06:18Essa informação, na avaliação do senhor, professor,
06:20mostra que a Apple acertou na estratégia?
06:25Olha, nesse sentido, talvez a Apple já tenha tomado uma decisão
06:29tentando se adiantar ao que a gente já veria nos próximos anos.
06:34A gente sabe, por exemplo, que a Índia começa a figurar
06:37como um grande mercado competidor em relação à China.
06:40Isso já está bastante claro com relação às projeções
06:43dos próximos 20 anos, sobre o crescimento
06:47tanto do mercado indiano quanto da infraestrutura.
06:51Então, o que a gente está vendo, de um certo modo,
06:53é a aceleração de uma aproximação que já existe,
06:57já está consolidada já há bastante tempo.
06:59A Índia já é um grande parceiro comercial dos norte-americanos,
07:03um grande parceiro na área do mercado digital,
07:07da produção de equipamentos.
07:08Então, o que a gente tem uma mudança estratégica
07:12muito inteligente, buscando reforçar uma parceria
07:17que tem tudo para dar certo nos próximos anos.
07:19Lembrando que isso também vai significar
07:22alguns desafios para a Apple.
07:24Essa transferência de produção da China em direção à Índia
07:29ainda precisa ser testada, até mesmo do ponto de vista
07:32da cultura de trabalho na Índia.
07:36Um dos motivos da Apple ter várias vezes,
07:40as lideranças da Apple várias vezes disseram
07:43que a China era interessante,
07:46tanto por causa do custo do trabalho,
07:48quanto pela presença de um imenso número de engenheiros
07:52muito bem formados na China.
07:54Agora, essa transferência para a Índia
07:56vai também exigir que a própria Índia,
07:59a gente tem que falar um pouco da Índia,
08:00do lado da Índia,
08:01que a Índia também consiga dar conta
08:04de receber uma grande empresa como essa,
08:06tanto com mão de obra de baixo custo,
08:09quanto com mão de obra super qualificada.
08:11Professor, é justamente esse ponto
08:13que eu queria atacar com você,
08:15porque a gente tem a China,
08:16que se tornou um polo para as big techs americanas,
08:19para empresas de todo mundo.
08:23Acontece, professor, fica tranquilo.
08:26Mas a gente tem a China,
08:28que se tornou um polo para as big techs americanas,
08:31para empresas de todo mundo, na verdade,
08:33e agora a gente tem a Índia entrando nesse jogo.
08:36Aí são duas perguntas que eu queria fazer.
08:38A primeira é,
08:39essa presença da Apple na Índia,
08:42ela provavelmente vai atrair outras companhias.
08:45Você colocar a Apple no seu portfólio de produção,
08:48é um belo cartão de visitas
08:50para que outras companhias também vão produzir na Índia.
08:54E a segunda pergunta é,
08:56a Índia está preparada totalmente
08:58para conseguir substituir essa produção que vem da China?
09:02Ela tem a infraestrutura necessária?
09:04O senhor estava falando, por exemplo,
09:05da mão de obra qualificada.
09:08A Índia já está nesse patamar?
09:10Ou a gente ainda vai ver uma curva de evolução
09:13para os próximos anos?
09:15Ótimo, excelente.
09:16Ótimas duas perguntas.
09:18Primeiro, a gente tem toda a cadeia de produção
09:20que vem arrastada junto com a transferência da produção
09:23de uma empresa de alto valor agregado,
09:27como é no caso da Apple.
09:28Quando você tem a produção desses equipamentos,
09:31você também tem uma série de outras empresas
09:33que gravitacionam em torno dessas empresas
09:36com fornecedores de componentes,
09:39de softwares,
09:40que acabam certamente tendo que se adequar a essa transferência.
09:44Algumas dessas empresas
09:45continuarão trabalhando de outros lugares ao redor do mundo,
09:48é só uma questão de logística,
09:50que é importante,
09:52mas não há necessariamente
09:53uma grande transferência de outras empresas,
09:57mas existem algumas outras empresas
09:58que fisicamente elas também
10:00estão muito próximas da produção.
10:02Então, essa decisão da Apple
10:04de fazer uma transferência
10:06da China para a Índia
10:07vai impactar uma série de outras empresas
10:10que vão ter que tomar uma decisão
10:12se vão continuar na China
10:14ou se também pretendem fazer
10:16essa mudança em direção à Índia.
10:18Então, isso leva para a segunda pergunta.
10:21Não é simplesmente a Apple
10:23que está indo para a Índia,
10:25provavelmente a Apple está trazendo consigo
10:28várias outras empresas
10:30que fazem parte desse ecossistema de produção.
10:33E aí, agora, o que a Índia vai ter que fazer?
10:36A Índia vai ter que se provar
10:37perante o restante do mundo.
10:39Obviamente que nas negociações
10:41ficou claro,
10:43a Apple certamente não faria um movimento desse
10:45se a Apple não estivesse convencida
10:47de que o mercado indiano
10:49iria conseguir suprir
10:53essa demanda por uma mão de obra qualificada.
10:55Mas agora é que vai vir o teste.
10:57A gente precisa entender
10:58até que ponto que a Índia vai conseguir suprir isso.
11:01lembrando que não se trata simplesmente
11:04da mão de obra qualificada.
11:06A gente está falando de alta qualificação,
11:09a gente também está falando de baixa qualificação,
11:11porque o ecossistema acaba envolvendo
11:13um número imenso de trabalhadores
11:15com diferentes perfis e graus de formação,
11:18mas também ao mesmo tempo
11:19a cadeia de logística
11:21que precisa funcionar de uma maneira
11:24muito redonda
11:25para que a produção e a entrega
11:27dos produtos da Apple
11:28atenda ao padrão de qualidade de Apple
11:31com o qual ela está acostumada.
11:33Professor, para a gente encerrar,
11:34o Brasil pode ganhar importância
11:36como um ponto de montagem
11:37nessa grande cadeia de formação do iPhone.
11:41Quais são os benefícios,
11:43os desafios para a Apple
11:44considerar a ampliação da produção
11:45aqui em Jundiaí,
11:47perto de São Paulo?
11:49Olha, em grande medida,
11:51os desafios são muito semelhantes.
11:53A gente precisa entender, por exemplo,
11:55qual seria o papel do Brasil
11:56em uma eventual cadeia de montagem da Apple.
12:00Questões como, por exemplo,
12:01mão de obra qualificada.
12:03O Brasil tem uma excelente
12:04mão de obra qualificada.
12:06Precisa mostrar isso,
12:07convencer essas grandes empresas
12:09de que elas podem receber
12:11e serão muito bem atendidas.
12:13Tem uma questão também
12:14sobre incentivos fiscais.
12:16Essas empresas certamente
12:17precisariam negociar
12:19a entrada delas no Brasil
12:21e elas, certamente,
12:23como elas acabam acarretando
12:25um grande aporte de investimentos
12:27na construção desses parques tecnológicos,
12:30dessas fábricas de montagem,
12:32elas provavelmente teriam
12:33um poder de negociação com o Brasil
12:35para ter algum tipo de vantagem
12:37de atratividade
12:38para poder vir para cá.
12:39E também a gente tem uma questão
12:41sobre energia.
12:43A gente estava vendo, inclusive,
12:43na reportagem anterior,
12:45o Brasil tem, inclusive,
12:47um excedente da produção de energia.
12:49Agora, o Brasil tem um gargalo.
12:51O Brasil produz bastante energia,
12:53mas o Brasil não distribui bem
12:54essa energia.
12:56Esses parques tecnológicos,
12:58eles consomem muita energia.
13:00Eles acabam também demandando
13:01muita infraestrutura de logística,
13:04de transporte, de energia
13:05e assim por diante.
13:06Então, o Brasil precisaria mostrar.
13:08Como você bem colocou,
13:09a região de Jundiaí
13:10é uma região que está
13:11extremamente bem servida,
13:12provavelmente a região
13:13mais bem preparada
13:14para receber esse tipo de investimento
13:17na América Latina inteira.
13:18Então, eu imagino que seria uma questão
13:20do governo brasileiro
13:21se colocar como uma possibilidade
13:24para que a Apple possa pensar
13:26eventualmente de trazer
13:27para essa região
13:28uma peça importante
13:32dessa engrenagem de montagem
13:34dos seus produtos.
13:36Está aí, Gustavo Macedo,
13:37professor de Relações Internacionais
13:39do IBMEC São Paulo,
13:41que nos ajudou a entender
13:42as causas e as consequências
13:44dessa mudança de eixo da Apple.
13:46vamos dizer assim,
13:47tirando alguma montagem da China
13:49para levar para a Índia
13:50em consequência
13:51do tarifácio de Donald Trump.
13:53Professor, muito obrigado
13:54pela sua participação
13:55aqui no Real Time.
13:56Agradeço também ao Rodrigo Loureiro
13:57que sempre abrilhanta
13:58as entrevistas aqui no jornal.
14:00Até uma próxima.
14:02Obrigado, gente.
14:03Até a próxima.
14:03Tchau, tchau.
14:04Tchau.
14:05Tchau.

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