Um vídeo publicado nas redes sociais do 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP) de São José do Rio Preto mostra policiais queimando cruzes e fazendo gestos que remetem a rituais nazistas. O Ministério Público de São Paulo deu um prazo de 10 dias para que o comandante do batalhão se posicione sobre o ocorrido, que gerou grande repercussão e indignação.
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NotíciasTranscrição
00:00O PM de São Paulo instaurou um procedimento para investigar um vídeo que mostra imagens de policiais queimando uma cruz
00:05e fazendo gestos que remetem a rituais nazistas.
00:09Vamos com a Valéria Luizete, que vai trazer as informações dessa história pra gente agora. Conta, Valéria.
00:16É exatamente isso. Boa tarde, Vandra, a todos que nos acompanham.
00:20Esse vídeo foi publicado nas redes sociais do 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia, o BAEP, de São José do Rio Preto.
00:27E nas imagens, então, é possível ver os policiais fardados junto, então, dessa cruz com o brasão que tinha a sigla do batalhão em chamas.
00:37Também haviam sinalizadores formando uma linha no chão, como se fosse uma espécie de ritual mesmo.
00:43Eles faziam alguma dança ali que remetia, inclusive, como você disse, a rituais nazistas ou até mesmo a Ku Klux Klan,
00:50que, pra quem não sabe, era uma supremacia branco conhecida, principalmente por pregar o ódio racial e também religioso no século XIX nos Estados Unidos.
01:02O vídeo foi rapidamente apagado das redes sociais, mas, ainda assim, o Ministério Público de São Paulo abriu investigação.
01:09E agora, o comandante do batalhão tem até 10 dias pra se explicar sobre esse caso.
01:14A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo disse que a PM é uma instituição legalista,
01:19repudia qualquer tipo de manifestação de intolerância e que, inclusive, já instaurou um procedimento interno também
01:25pra apurar o caso, junto, então, dessa investigação que está sendo colocada pelo Ministério Público.
01:32Porque chama muita atenção, e você vê que é um vídeo produzido exatamente porque ele foi feito pela própria corporação
01:37e foi publicado no encerramento de um treinamento noturno.
01:41O que a corporação disse nesse caso?
01:44Que o material foi produzido durante o encerramento de um treinamento noturno,
01:47conduzido pelas próprias equipes do batalhão, com o intuito de representar simbolicamente
01:52a superação dos limites físicos e psicológicos enfrentados ao longo da instrução.
01:58E reforçou que, em nenhum momento, houve intenção de associação a ideologias de natureza religiosa, racial ou política.
02:05Mas eu fico pensando, a cruz é o quê, né?
02:08Porque, quando você olha uma cruz, naturalmente você tem um símbolo religioso, não é?
02:16Como é que você queima uma cruz sem querer que isso gere uma associação a algo religioso?
02:25Né?
02:26É essa questão que precisa ficar mais esclarecida ali sobre as intenções da corporação
02:31ao fazer esse encerramento, a esse registro, né?
02:34O porquê da escolha deste símbolo para representar a superação dos limites, etc.
02:38Mas aí é uma cruz pegando fogo numa sociedade que tem a sua maioria cristã
02:44e completamente relacionada e que relaciona a cruz à religião, a essa situação.
02:51Nesse momento, inclusive, né?
02:53Em que a cruz tem a representatividade simbólica mais forte,
02:58que é o momento, gente, nós estamos chegando aí próximo da Sexta-feira Santa, né?
03:03Que, segundo a religião católica, né?
03:05Foi o momento da crucificação de Cristo, né?
03:08Segundo o cristianismo.
03:08Então, você tem, justamente nesse momento em que as pessoas estão pensando sobre a crucificação,
03:16sobre a morte de Cristo, sobre esse período da ressurreição,
03:19aí você tem uma cruz pegando fogo, enfim, né?
03:21Seria quase que inevitável que não houvesse nenhum tipo de relação religiosa.
03:25Como é que vocês avaliam a maneira agora como a PM deverá conduzir a explicação
03:30e, principalmente, a situação como um todo, Alangani?
03:33Olha, eu acho que tem que ser investigado e a PM vai ter que argumentar que esse ritual aí que houve
03:43não tem nada a ver, né?
03:44Com uma associação supostamente nazista ou de Cusclã, algo nesse sentido, né?
03:52Agora, que são imagens muito estranhas, são, né?
03:55O que você achou, Monteiro?
03:56Uma imagem estranha e forte, né?
03:58Estranha e forte, né?
03:59Porque não dá para você olhar essa imagem e não associar, no momento da Semana Santa, né?
04:03Um atentado ao símbolo cristão, que é a cruz.
04:07E também não associar, também, a gestos nazistas, né?
04:12Então, espero, realmente, que a corporação abre o processo administrativo, né?
04:18Investigue e chegue à conclusão sobre o assunto e venha público falar sobre esse assunto, né?
04:23Mas, no meu modo de ver, que tenha também uma mudança desse treinamento, desse expediente
04:29feito pela polícia nesse caso específico, né?
04:33E tem a mudança, porque não cabe mais no mundo contemporâneo, né?
04:36Que a gente está, ainda mais considerando o passado negro na nossa história, a gente olhar
04:39essas imagens e ficar impassível sobre elas.
04:42É algo que incomoda mesmo, né?
04:43Não dá para a gente aceitar algo desse tipo no mundo moderno.
04:46O que foi, Gani?
04:46Não, não, a imagem, assim, num primeiro momento, se ninguém me falasse nada, o contexto
04:51parece uma coisa de um ritual meio satântico.
04:53A cruz pegando fogo, né?
04:54Fala, Segré.
04:56Quando alguém pergunta a importância de um editor-chefe num programa de televisão...
05:01Exato, é isso que eu estava pensando.
05:03Ou um roteirista, a carreira roteirista é muito importante para evitar esse tipo de coisas.
05:09Muitas vezes são na crua e estúpida inocência, né?
05:13Não com intuito, mas vai ter que dar explicações.
05:16Estamos falando de uma instituição, não é um privado que faz isso.
05:20Então, se não foi com intenção, então peça desculpas e evite que isso aconteça de novo
05:25e assuma as consequências por isso.
05:27Mas todas essas instituições estão precisando do editor-chefe, não tão bom como o nosso,
05:33porque o nosso é o melhor de todos, mas um roteirista com certeza.
05:37Ô, Segré, você leu meus pensamentos.
05:39Eu estava pensando o seguinte, não é possível que ninguém olhou para essas imagens
05:44ou para essa gravação e falou, hum, acho que isso aqui não vai dar muito bom, né?
05:49A não ser que houvesse, de fato, a intenção de representar e de lutar com as interpretações
05:55dessa história.
05:56Porque a cruz pegando fogo com os braços esticados, enfim, e ainda com toda a simbologia ali,
06:02nesse momento especificamente, eram muitos elementos que poderiam ser analisados aí
06:07por alguém que falasse.
06:09Eu acho que é melhor a gente não postar esse vídeo.
06:12Fala, seu Zé Maria Trindade.
06:15É, eu entendo os ritos de passagem e em treinamento policial, militar e civil,
06:21isso é muito importante, né?
06:23Existem vários, existem, vamos dizer, eles se colocam como personagens,
06:29enfim, um batalhão é invadido por pessoas, enfim, caracterizadas, é o treinamento, né?
06:38E no final de um curso há sempre alguma coisa extraordinária, sabe?
06:43E falta isso mesmo, é a avaliação de que nós mudamos.
06:46O mundo hoje é o mundo de imagem.
06:49Então, uma imagem dessa aí passa, é uma situação muito grave, né?
06:55De tentativa, ou mesmo nazista, ou de supremacia branca,
07:01que é uma imagem, só faltou o capuz na cabeça dos policiais.
07:08Mas, enfim, é hora de pedir desculpas e dizer, olha, não era a intenção,
07:13porque eu não acredito que alguém seja tão ignorante ao ponto de fazer isso aí intencionalmente.