Décio Oddone, CEO da Brava Energia, analisou os impactos da queda no preço do petróleo em entrevista à Cristiane Pelajo no Jornal Times Brasil. Segundo ele, a volatilidade afeta diretamente a arrecadação do governo e pode reduzir os dividendos pagos pela Petrobras.
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NotíciasTranscrição
00:00Bom, vamos conversar agora com Décio Odoni, ele é CEO da Brava Energia.
00:03Décio, boa noite, obrigada por ter aceitado o nosso convite.
00:07A gente encerrou a semana com respiro para o setor,
00:11mas ainda com queda significativa desde o acirramento dessa guerra tarifária.
00:15Então, eu queria considerar dois cenários.
00:17Um, uma certa trégua, digamos assim, entre China e Estados Unidos.
00:21O outro, de um acirramento do conflito.
00:24O quanto os preços do petróleo podem continuar caindo, estagnar ou até subir?
00:30Boa noite, Cristiane. É um prazer estar com vocês aqui, nesse momento.
00:35Bom, petróleo é comodos, e comodos flutuam no mercado internacional
00:41em função de oferta, demanda e eventos geopolíticos, como a gente está vivenciando agora.
00:46É difícil precisar quanto pode subir ou cair o preço do petróleo no curto prazo.
00:53Agora, o que a gente pode garantir com uma certa certeza
00:56é que, no longo prazo, o preço do petróleo flutua numa faixa relativamente estável.
01:03E, ultimamente, isso tem sido uma faixa de 65 a 85 dólares.
01:08E esse é um cenário que a maior parte dos consultores considera hoje como cenário básico.
01:14Então, evidentemente, se houver um acirramento da discussão
01:18e houver uma influência maior de tudo isso que a gente está vivendo agora no comércio internacional,
01:24a gente pode passar por um período de preços mais baixos.
01:27Mas isso vai depender de como evoluírem as conversas entre os Estados Unidos e a China.
01:34Bom, muito se fala de uma recessão a partir das tarifas dos Estados Unidos e China.
01:40Inclusive, a gente mostrou no começo do jornal aqui, executivo, o CEO da BlackRock
01:45e também Goldman Sachs falando sobre isso.
01:48Como é que uma queda do preço do petróleo pode impactar significativamente a economia mundial?
01:55A demanda de petróleo é relativamente inelástica à economia.
02:00O que a gente viu nas últimas recessões é que a queda de demanda é relativamente baixa.
02:09Agora, uma queda do preço do petróleo tem impacto em algumas economias,
02:14especialmente as economias que são dependentes de exportações de petróleo.
02:19E, a partir de recentemente, é o caso da economia brasileira.
02:23O Brasil que, durante muito tempo, foi um grande importador de petróleo,
02:27a partir dos últimos anos, se converteu num exportador relevante.
02:31Hoje o país exporta mais de um milhão de bairros por dia.
02:33E uma queda de preço de petróleo afeta a arrecadação no Brasil também.
02:39Eu vou passar para a pergunta dos nossos analistas.
02:42Vamos começar pelo Alberto Azental.
02:43Alberto, fica à vontade.
02:44Décio, boa noite.
02:46Em função de tudo que a gente acabou de mostrar,
02:49parte dos analistas olha muito a questão da queda do petróleo,
02:55da queda da ação da Petrobras e do valor patrimonial da Petrobras
03:00e o que vai acontecer com a empresa,
03:02inclusive a questão de distribuição de dividendos,
03:06quer seja para o governo e quais são os impactos,
03:08quer seja para os acionistas.
03:11Mas isso é parte da história, um lado da moeda.
03:14O outro lado da moeda é, de verdade, o petróleo caiu, está mais barato,
03:19os derivados estão mais baratos.
03:22Você acredita que a Petrobras possa vir a diminuir o preço dos combustíveis,
03:29tornar a vida do brasileiro um pouco menos onerosa
03:33e quem sabe impactar menos até na inflação dos alimentos?
03:37As decisões da Petrobras são de competência delas.
03:42O que a gente vê é que essas flutuações do valor do petróleo no mercado internacional
03:47são relativamente comuns.
03:49O que não são comuns são flutuações dessa magnitude que a gente vivenciou nos últimos dias.
03:54Mas se a gente extrapolar para a normalidade,
03:58o petróleo como comode geralmente flutua e o que a gente tem visto no Brasil
04:01é, com o tempo, os preços aqui refletindo as variações no mercado internacional.
04:08Vamos passar, então, para a pergunta do Vinícius.
04:10Vinícius, fica à vontade.
04:11Nesse Boa Noite, você está ou já esteve nas duas pontas.
04:15Você esteve na Agência Nacional do Petróleo,
04:17agora está em uma empresa privada, na Brava.
04:19Acho que você podia ter um comentário interessante
04:24para a gente pensar em resultado, tanto de governo como de empresa.
04:27No governo, a Petrobras, no ano passado, foi cerca de 7%, 8% da arrecadação,
04:33petróleo e Petrobras.
04:36E essa queda de petróleo, você acha que se reflete diretamente?
04:42Porque nem só o preço do petróleo, como o Alberto acabou de perguntar,
04:48impacta no resultado.
04:49A gente vai ter que ver como é que vai ficar o preço de combustível também.
04:52Em primeiro lugar.
04:53Em segundo, como é que isso impacta em resultado?
04:55que muita gente vai se perguntar, dividendo na Petrobras, mantida a política,
05:00vai cair quanto?
05:01Quanto isso bate no resultado, quanto bate isso em dividendo?
05:04Você está em uma empresa privada, pode pensar isso um pouco melhor.
05:07Então, no resultado do governo, o tamanho do tombo é grande?
05:11No resultado das empresas, o tombo é grande?
05:15Bate em dividendo?
05:16Bom, para o Estado, o impacto na arrecadação, ele vem de várias formas.
05:24A principal delas é o royalties.
05:26A partir do momento que você tem uma redução do preço do petróleo,
05:29os royalties são pagos a partir de um preço que a ANP calcula,
05:31considerando os preços internacionais.
05:34Então, esse impacto é direto, ele afeta a União, Estados e Municípios,
05:38que compartilham esses recursos.
05:39E, mais a longo prazo, eles impactam também as outras participações governamentais,
05:45como o imposto de renda que as empresas pagam,
05:48a parcela que ela paga do petróleo retirado dos campos de partilha,
05:52que a União tem uma participação.
05:55Para as empresas, essa flutuação afeta resultado.
05:59Evidentemente, se ela permanecer em uma situação negativa com preço mais baixo
06:05por um período maior, vai afetar o resultado de todas as empresas de petróleo,
06:09sejam elas brasileiras, estadas ou não.
06:11O que a gente trata de trabalhar na indústria é ter uma visão de mais longo prazo,
06:17considerar que essas flutuações de petróleo no curto prazo são relativamente normais
06:22e fazer um planejamento de longo prazo.
06:25Essas flutuações de curto prazo, elas trazem ajustes nas estratégias das companhias,
06:31mas que acabam se compensando ao longo do tempo.
06:34Quer dizer, de certa forma, e pegando um gancho na pergunta do Vinícius,
06:38neste momento, no atual cenário, vocês podem alterar as estratégias da empresa,
06:44as estratégias da Brava, é isso?
06:47Sim.
06:47Num cenário de preço mais baixo, nós temos flexibilidade para reduzir investimentos,
06:52reduzir custos e voltar a investir quando os preços estiverem em um nível mais alto.
06:57É isso que normalmente se faz e a gente está planejando fazer na Brava também.
07:01Mas aí é um momento que pede cautela ou tem espaço para usar mais?
07:05É um momento de cautela.
07:07Quando você tem um portfólio diversificado como o nosso, balanceado,
07:10que tem ativos que permitem redução de investimento rápida,
07:13sem impacto de longo prazo, é o que a gente pode fazer e deve fazer.
07:18Décio, muito obrigada. Prazer te receber aqui. Boa noite e bom fim de semana.
07:24Obrigado e foi um prazer.